quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Confissão

Quando imaginei acertar, quanto erro, quantas lágrimas, quanta dor causei.

Quando mais tive esperança, quanta angústia, quanta tristeza vivi.

E ainda quando eu nada, quanta cura e paz, quanta misericórdia, mistério e alegria derramaste.

Deste-me tudo ainda quando no vazio me fizeste permanecer.

Caminhos inexplicáveis.

Porque todo o esforço que de mim esperas é chamado teu e dom da tua graça, pela qual sei que todo o existir, o morrer para viver e a vida que vence a morte não estão em minhas mãos, mas nas tuas, Senhor.

Não sou capaz de buscar-te na tua grandeza, mas me ofertas a simplicidade do teu amor...

Move o meu coração para que deseje e se alegre na tua vontade. No silêncio, dá-me ouvidos certos à tua voz. Move a minha mente para que compreenda, move o meu ser para que siga, obediente discípulo, os passos do Mestre... move os meus atos para que eu seja a diferença e reflita a luz da tua glória.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

E viva a MPB - Lenine

Todos os Caminhos

http://www.youtube.com/watch?v=_I17I6mRgec

Eu já me perguntei se o tempo poderá
Realizar meus sonhos e desejos
Será que eu já não sei por onde procurar
Ou todos os caminhos dão no mesmo
E o certo é que eu não sei o que virá
Só posso te pedir que nunca
Se leve tão a sério, nunca
Se deixe levar, que a vida
É parte do mistério
É tanta coisa pra se desvendar

Por tudo que eu andei e o tanto que faltar
Não dá pra se prever nem o futuro
O escuro que se vê quem sabe pode iluminar
Os corações perdidos sobre o muro
E o certo é que eu não sei o que virá
Só posso te pedir que nunca
Se leve tão a sério, nunca
Se deixe levar que a vida
A nossa vida passa
E não há tempo pra desperdiçar.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Eu quero crer, não quero ver... viver e só de ti viver

"E se..."

http://www.youtube.com/watch?v=MNfwPPHkb_s

Belíssima música do CD "Canções à meia-noite", do Stenio Marcius.

A figueira não floresce
Não há fruto na videira
O produto da oliveira mente

Rios, campos não produzem
O curral está vazio
O aprisco está deserto

Tudo isso se passando e o profeta mesmo assim vai se alegrando em Deus

Mas e se fosse comigo
Pra quê mesmo que eu vivo
Onde está minha alegria?

E se a dor for minha sina
Será que ainda faço rima
Canto alegre a melodia?

E se eu perdesse tudo será que contudo me alegraria em Deus?

Eu quero ser, não quero ter
Eu quero crer, não quero ver

Que minha alegria seja tão somente me lembrar de Ti, meu Deus!
Viver e só de Ti viver
Morrer ansioso por te ver
É minha oração
É assim que eu queria ser

Saudade

A saudade é segredo da alma que, por muito amar, esconde seguro seu tesouro, vivo nas lembranças capazes de unir tempos, espaços e corações.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

À espera...

Tem uma voz de criança em mim
Que não pára de perguntar: já chegou? já chegou? já...
Chega logo, vem de vez e fica.
Cultiva o lugar no coração.

Sei que não há pressa, mas o que fazer?
Às vezes tenho saudade do futuro
E ao desejá-lo, você está lá.
Sinto a tua falta, é isso.

Vem, com ou sem dúvidas, vem...
Arrisca o passo e toma o caminho
Não é preciso o mapa
Retira do futuro o peso
Deixa-o junto com o passado
E segue o sussurro do teu pensamento

O sol brilha agora suave
É de novo manhã de primavera
Recorda o desejo que te colocou na estrada
E vem...

A viagem foi longa até esse ponto, eu sei
Mas é que o tempo aqui também custou
Pedras...
Havia muito a construir
E demorou preparar tudo...

Mas, olha, está ficando tão bonito
Quero compartilhar contigo
Há um lugar para descanso
Uma sala para conversas
Vento de carinho circulando entre as janelas
Espaço para amor no espaço que é todo de amar
Disposição para acomodar as bagagens
Um cantinho especial só para os retratos
E uma rede, para perdermos as horas
Vivendo e sonhando

Não vou contar
Nem sei de tudo
Há outras surpresas
A gente vai descobrindo

Confesso que ainda dá frio na barriga...
Será que cuidei de tudo aqui dentro o suficiente?
Certeza de que ainda falta
Idéias e detalhes são tantos
Mudanças e cuidados também
Sempre infinitos...
Mas você está chegando
Podem ser nossos...

Penso que vamos gostar
Vai valer a pena
Chega logo!?!?!
Quero ver o brilho nos teus olhos

Espero a tua voz.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Nas mãos do Eterno...

No escuro da alma, a memória visitou o passado e viu, em cada detalhe, o cuidado. Então um sonho fez repousar entregue o futuro e presente se fez manhã de paz...

domingo, 12 de setembro de 2010

Vontade de jogar a toalha...

Uma meia-verdade é tão quase verdade, quanto quase mentira. Ou seja, é um nada, mas com potencial imenso de causar estragos.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A festa tem motivo

"É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Porque se você parar
Pra pensar
Na verdade não há..."

Tens amado assim, né, mãe. Se tivesse que escolher, dentre todas as lições aprendidas contigo, seria esta, sem dúvida, a que mais me toca.

Veio à memória agora uma música que cantava quando pequena para comemorar o dia das mães, rs: "mamãe, mamãe, carinhosa, cheia de amor... qual fonte que jorra assim é o seu coração a jorrar amor".

E por saber amar, perto de você, sinto brotar a cada dia ainda mais vida e razão para celebrar. Você multiplica a dávida e nos contagia.

Feliz aniversário... sorriso largo, espírito cheio de gratidão e alegria, abraço gostoso dos que a você se unem pelo coração.

Um dia lindo, de muita festa. A festa tem motivo... motivos de sobra.

sábado, 21 de agosto de 2010

Ah.... gosto dessa música

"...Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil sem você
Porque você está comigo
O tempo todo
E quando vejo o mar
Existe algo que diz
Que a vida continua
E se entregar é uma bobagem..."

Mas será? Foi só o tempo que errou?

Afinal, como saber? É enigma que, se fosse de esfinge, já tinha me devorado.

Tudo o que sei é que pude sentir o vento, quando cheguei até a praia e vi o mar....

É, eu vi o mar! Eu vi o mar!!! E eu ouvi o que foi dito.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

É dia deles...

Amanhã, completam-se 36 anos de uma noite festiva, com um buquê de rosas vermelhas... extravagância de uma noiva realizada sob os olhares apaixonados do noivo ansioso por sua chegada ao altar.
Não, eu não estava lá, mas consigo imaginar... eles doaram-me os olhos que tenho, também o cérebro e o coração. Tatão, Celo e eu éramos a parte mais especial do grande projeto. Isso eles também não sabiam, aliás, muito pouco sabiam, mas sonhavam... queriam, apostaram e puseram o pé na estrada da vida, a dois, confiantes na essência, na direção e na base de onde se lançava o desafio. E buscaram do alto a bênção, todo o amor e fôlego...
Pois bem, deu certo, tem dado muito certo, rs. Lá se vão mais de 40 anos desse encontro.
Quando falo do papai, mãe, você está sempre nas entrelinhas, porque não consigo conceber um homem chamado Carlos Oscar sem ver as marcas de sua amada em cada traço. Também assim, pai, não existe uma senhora bonita chamada Rute sem o toque do seu amado, sem o registro dessa comunhão de vidas, de almas.
E assim vocês caminham testemunhando a mim os versos do poeta: "assim como viver sem ter amor não é viver, não há você sem mim e eu não existo sem você".
Novo ano se inicia nessa história. Que flua ainda mais amor, que se renovem as forças, que teimem os sonhos em continuar nascendo. De sintonia, compreensão, tremenda cumplicidade, capacidade de perdoar, de andar outra milha, vocês têm feito um voo bonito de se ver e me ensinado que os mais belos projetos em vida se fazem com companheirismo, amor e entrega... é de mãos dadas.
Que venham outros tantos anos e que a história desse amor siga como o vento, que contorna os obstáculos e nada pode deter, porque, mesmo quando parece incerto, invisível o rumo, não deixa de soprar, sopra como quer e sabe aonde quer chegar.
Parabéns, queridos!

sábado, 31 de julho de 2010

Como os pássaros "aprendem" a voar?

É... por vezes, não há outra alternativa, senão pular, lançar-se em queda livre, para então experimentar de fato que Deus nos sustém e nos fará flutuar e subir nas asas do vento.

E pode doer ao limite, sim, estremecer demais...

... é certo, porém: valerá a pena esperar, confiar e então compreender, no íntimo, que esse exato momento, de profundo vazio abaixo dos pés, mas de absoluta dependência e confiança, foi a experiência mais importante e renovadora de toda uma vida.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Questão de perspectiva


Penso que, por vezes, Deus nos vê assim. Estranho mesmo é perceber que ficamos tristes ou aborrecidos quando ele toma de nós o "brinquedo" e corta a "diversão".

Nada a dizer, senão "obrigada"!


segunda-feira, 26 de julho de 2010

E um dia então nos encontramos, mas desconheço de fato quando foi que partimos...

E você me olhou pela primeira vez, como se do seu olhar eu pudesse algum dia ter esquecido...

domingo, 25 de julho de 2010

Ainda ...

O silêncio me cobriu por inteiro.

Se o vejo como um manto escuro, denso, sufoco, e fico à procura da borda, para suspendê-lo e respirar aliviada.

Se o vejo como manta suave em dia de inverno, aconchego, e puxo mais um pouquinho até envolver todo o corpo.

Sei que as mudanças silenciosas são as mais profundas, enraizadas, que tocam as entranhas e alteram os rumos em definitivo. O problema é flagrar-se no meio do caminho quando ainda não há bússola apontando a direção exata.

Exigir do silêncio, feito para ser silêncio, que pronuncie urgentemente a sua lógica é quase tão absurdo quanto querer engarrafar o vento.

sábado, 17 de julho de 2010

Poeminha de um amor assim....

Eu quero, como dizia Cazuza, apenas a sorte de um amor tranquilo, vivo e apaixonado. Amar e sê-lo de volta, amor-dado.

Um laço de alma e corpo. E corpo quente, como não?

Feito de momentos e detalhes, gestos e sintonia. Estrada aberta para surpresas, às vezes, lágrimas, nem só de alegria.

Que se alimente do prazer de dividir o passo, mostre-se certo o caminho ou, meia-volta, tudo errado!

Que venha de querer estar junto e também sentir saudade... respeitar pausas, crescer sem pressa e viver cada idade.

Que se encha de cumplicidade, desejo, ternura.

Na estranha equação de dois em um, colecione boas memórias desta vida partilhada com tudo quase ou muito em comum.

Que sejam as lembranças tesouros, talhados pelo tempo na gente, capazes de mover a outra milha quando as pedras surgirem à frente.

De tanto sentido transborde, que as mãos estenda além. Guarde a fé e lá no fundo o lugar de onde brota, a fonte que o sustém.

E por ser imperfeito, desejo-o também intenso, sincero a ponto de sempre mais ter. Para que vivo lute e nunca nunca desista de sorrir-sonhar, recomeçar e ser prazer.

Exagerei?

sábado, 10 de julho de 2010

Pela janela do meu silêncio...

O constante diálogo - Carlos Drummond de Andrade

Há tantos diálogos

Diálogo com o ser amado
o semelhante
o diferente
o indiferente
o oposto
o adversário
o surdo-mudo
o possesso
o irracional
o vegetal
o mineral
o inominado

Diálogo consigo mesmo
com a noite
os astros
os mortos
as idéias
o sonho
o passado
o mais que futuro

Escolhe teu diálogo
e
tua melhor palavra
ou
teu melhor silêncio
Mesmo no silêncio e com o silêncio
dialogamos.


quinta-feira, 1 de julho de 2010

Ah, essa minha intansiedade

Em meio a reflexões necessárias, tuitaram uma frase: "Outra coisa que penso quando me lembro daquelas uvas cor-de-rosa é que, na vida, as coisas mais doces custam muito a amadurecer".

E foi em cheio...

Porque o dia terminou assim, com uma lição: melhor é não ansiar tanto pelo todo, apreciar mais as incompletudes; o todo, de fato, é apenas a projeção do que também será parcial, porque assim somos e a dinâmica da vida é agregadora. Portanto, "mente efusiva", diante das lacunas [e sempre haverá], se possível, aquiete-se. Enquanto não, procure pelo menos recheá-las de bons pensamentos.

Espera amadurecer, espera o doce natural, espera o melhor!

Sigo aprendendo... obrigada!

sábado, 12 de junho de 2010

A menina dos olhos sou eu ...

E eis que me esperavam neste 12 de junho as mais belas tulipas que já vi...

Da cor da paixão, vieram das mãos do meu eterno namorado, rs.

Sua simbologia: uma declaração de amor.

E que declaração!

Paizão, paizinho, querido da minha vida, fizeste mágica hoje: sorri em lágrimas, chorei em riso. Te amo

Mami, amor compartilhado é mais gostoso, hahaha. Saudade de vcs. To chegando...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Pensamento solto...

Caminhar é crer acima de tudo, porque sem esperança permaneceremos estagnados ainda que andando a passos largos...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

É Drummond, né!

Certamente a relação entre poesia e realidade não se chama reflexo ou conhecimento. Atende pelo nome de "encontro".

Amor e seu tempo

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 6 de junho de 2010

Este é o meu lar...

O lar do coração não está entre quatro paredes, mas onde vivemos a verdade e, sendo o que somos, amamos, amados. É lugar dentro, não fora. E é tão raro.

Além dos porquês e poréns...

O que nasceu em mistério não teme perguntas sem resposta. O que nasceu transcendente não vive pelo que pode tocar.

sábado, 5 de junho de 2010

Caminhando por dentro...

Vivemos tão apegados ao exterior que, quase sempre, é preciso que a vida nos vire do avesso para fitarmos o imponderável: nós mesmos.

Como trabalha o tempo...

Tempo, tempo, tempo, peneira sábia da vida. Se contingência, reténs para lançar fora. Se essência, deixas fluir e derramas sobre a história.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Para sempre...

Dizem que nada se leva dessa vida.
Engano.
Pois existe uma forma de morrer em vida: amar.
E pode ser então que você tenha a oportunidade de ver-se morrer. Calma, não é só dor, apenas também.

Mas pelo amor morrem os interesses, o vazio, a angústia, a maldade, a incompreensão. E nasce beleza, paciência, esperança, vida, doação. Descobre-se o que é companheirismo, cumplicidade, simbiose.
Amar é sentimento que invade e fim. Amar é atitude que conjuga sempre um mesmo verbo: entregar.
Entregar-se é morrer de pouco em pouco ou de muito em muito.

Se um dia, pois, amares, vais contradizer o ditado ao saber que, de fato, nada importa e nada se leva, mas o amor...
Ele é a razão do pranto, do luto, bem assim de toda a gratidão e alegria plena que você possa ter e levar consigo.
Sim, há algo que se leva dessa ou nessa vida. O que as muitas águas não podem apagar, nem os rios afogar. O que é a essência, sem a qual nada pode ser completo.
Quem o encontra, sabe-o bem... não duvida. Não há como, nem porquês, apenas ser.

"Que a vida é mesmo
Coisa muito frágil
Uma bobagem
Uma irrelevância
Diante da eternidade
Do amor de quem se ama"
Nando Reis

terça-feira, 11 de maio de 2010

O segredo da brisa...

É madrugada, noite escura
Um vento outono sopra um segredo
Tão sussuro, como ouvir?
Sopra de novo... ssssssssss
Sim, posso sentir

Inspiro... ele entra
Comunica o corpo ligeiro
Suspiro... na alma penetra
Tudo se toca, aquece e alimenta

Ah, vento faceiro!
Que do amor quis me contar
Veio dizê-lo infinito mistério
Do que é por ser
E para sempre será!

sábado, 1 de maio de 2010

A minha gostosinha

Aproxima-se o dia das mães... e, como prometi à menina dos meus olhos, rs, posto um texto escrito em 2009, em homenagem aos 62 anos de vida da mulher especial que me carregou no ventre e escolheu doar-me vida todos os dias.

"Eu celebro hoje a dádiva de ter a minha mãe comigo. Eu celebro a mãe, eu celebro a amiga, eu celebro a pessoa que ela é.

Este 7 de setembro tem um sabor especial para mim.

Se a temática da data é a independência e a minha mãe é a maior de todas as “paradas”, ao comemorar mais um ano de vida desta mulher excepcional, eu dou salvas à liberdade, a liberdade que só o amor pode trazer, quando ele realmente se revela em toda a sua força e grandeza, incondicional.

Não sou de trazer a público questões íntimas diretamente, mas abro hoje uma justa exceção, pelo simples fato de fazer bem ao coração e à alma reconhecer e expressar o valor de alguém tão essencial na nossa vida:

MÃE, minha linda, anjo de Deus na minha jornada, você tem dado a mim desde sempre a maior lição de vida, a do amor verdadeiro, legítimo, que se expressa por palavras, por cuidado, por carinho, por zelo, por fé, por sorrir e chorar junto, por sustentar, prover, direcionar, respeitar, esperar, não desistir jamais. A lição do AMOR que é AMAR, cujo valor excede o de todas as coisas por não ser apenas sentimento, mas, acima de tudo, atitude. Esse amor é verdade, e conhecê-lo liberta!

Um amor tão sublime só pode ser sonhado e desenhado pelo Pai. Ele inunda o seu coração e tem jorrado abundantemente, com toda a vitalidade, sobre a vida de todos nós.

Minha gostosa, rs, parabéns!

Que o Senhor da vida, que pensou você em cada detalhe desde a eternidade, derrame paz, alegria, força, sustento, fé, esperança, ânimo, bondade e ainda muito mais amor por todos os anos da sua caminhada.

O dia é seu, mãe, mas o presente é sempre nosso!"

OBS: "Não sou de trazer a público questões íntimas diretamente..." hahahha, isso foi, é claro, antes do blog, rs. TE AMO, mami.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Presente (2)

Da mesma e inspiradora fonte, com idêntica nota... e uma pequena gotinha nos olhos. Era um brilho, rs.

"Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!"

* * *

"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."

FERNANDO PESSOA

Presente (1)

"Já escondi um amor com medo de perdê-lo, já perdi um amor por escondê-lo.

Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade...

Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!"

(CLARICE LISPECTOR)


Recebi o texto com uma nota: me lembra vc! E ficou no coração, obrigada.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

E viva a simplicidade da infância!

Passei a tarde de hoje com meus dois tesouros: Júlia e Pedro... energia que não acaba.

Depois de lancharmos, sentamos na sala (eu, cunhada e irmão) para tentarmos, em vão, bater um papo contínuo, rs. E só conseguíamos rir. Afinal, "ter filhos é...". Eles corriam, pulavam, chamavam a atenção de todas as formas possíveis e imagináveis até que encontraram uma brincadeira "legal": e eu virei escorrega. Nada demais... eles só queriam subir pela lateral do sofá, passar por cima de mim e pular para o outro lado, onde estava o pai. E assim fizeram por mais de meia hora seguida... até que eu, já com os braços cansados de tanto fazer alavanca e a perna toda dolorida de pezinhos delicados, rs, levantei....

Fiquei depois pensando. Sempre me intrigou (por vezes, até desesperou, rs) o gosto das crianças por fazerem e fazerem de novo, indefinidamente, aquilo que acharam "gostoso". Por que será? Como adultos, logo pensamos: ok, foi divertido, mas chega, já acabou a graça... que tal procurar algo novo? Não dá para isso aqui durar eternamente mesmo...

Mas a mente infantil não funciona assim, eu acho. Talvez, com menos expectativas (planos) para frente e menos experiências para trás, eles apreciam com muita profundidade cada momento e se sentem felizes apenas por poder repetir e repetir o prazer de uma simples brincadeira.

Não sei se meus sobrinhos tinham em mente que aquele pula-pula alguma hora iria acabar... ou que eu iria me levantar e ir embora, mas o certo é: as crianças não estão preocupadas com o "tudo que é bom dura pouco". Não sofrem por antecipação e não poupam energia para aproveitar o que veio de presente. Desfrutam dos momentos como se fossem eternos e com uma intensidade que deveríamos relembrar aqui dentro, guardada em algum lugar.

Já nós... afinal, o que o tempo nos traz? Pressa? Indiferença? Medo?

Se não cuidarmos melhor, passamos pelas pessoas, pelos encontros, pelas oportunidades, apenas preocupados com o que vem depois ou marcados por aquilo que já nos ocorreu. E perdemos certa ingenuidade necessária para permitir que cada momento seja único. Cultivarmos simplesmente o que for bom, por que não?

Quanta sabedoria naquela brincadeira de hoje... quero guardar um tanto da criança que fui para a vida inteira.

Da excelência da pausa

"Muitos temores nascem do cansaço e da solidão" (Renato Russo, Há tempos, inspirado na Desiderata)

"Ele mesmo, porém, se foi ao deserto, caminho de um dia, e veio, e se assentou debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte e disse: Basta... Eis que um anjo o tocou e disse: Levanta-te e come. Comeu, bebeu e voltou a dormir... e segunda vez veio o anjo: Levanta-te e come porque o caminho será sobremodo longo; ... e caminhou até o monte Horebe... Ali, entrou numa caverna. Veio a palavra do Senhor: que fazes aqui, Elias? Eis que passava o Senhor; e um grande e forte vento... porém o Senhor não estava no vento... um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto... um fogo, mas o Senhor não estava no fogo; e, depois do fogo, um cicio tranquilo e suave... Ouvindo-o Elias, saindo, pôs-se à entrada da caverna... Disse-lhe o Senhor: Vai, volta ao teu caminho..." (1Rs. 19)


Precisamos da pausa.

Ela pode ser consciente, por prevenção (e é bom que o seja), mas também fruto do limite que já estourou, do desespero, como foi o caso do profeta. De uma ou outra forma, certo que será terapêutica.

Minha mãe ficava sempre repetindo uma frase: - "Filha, sempre que der, deite-se e olhe para o teto". Um amigo deu boas risadas recentemente quando contei isso.

Quando disse que um conselho de minha mãe reverberava aqui dentro sempre que eu me sentia meio sufocada pelas pressões de todo lado, acadêmicas, profissionais, financeiras, emocionais, relacionais, espirituais, acho que ele esperou algo como "seja forte e corajosa"... mas não, minha mãe dizia para eu aprender a olhar para o teto!

Apesar de eu realmente ter presenciado, por vezes, ela levar a própria máxima ao pé da letra (deitada na cama e olhando pro teto, rs), hoje entendo e guardo comigo o significado deste conselho. Para mim, à época de adolescente, início de juventude, sendo 220V por natureza, parecia uma piada... dependendo dos ânimos, até provocação. Como assim olhar para o teto, mãe? Que idéia mais bizarra. Além de perda de tempo, é impossível parar de PENSAR (entenda-se TORTURAR).

O tempo passou e comecei a perceber que o recado era simples: pare! E não faça nada! E como isso me fez bem.

Claro, sempre que possível, prefiro estar na rede de casa olhando a paisagem de um vale com muito verde e casinhas coloridas que formam um belo quadro à luz do sol... prefiro mais ainda caminhar na praia, à beira do mar, molhando os pés, envolvida por aquela brisa deliciosa, constante, e o barulho das ondas encerrando-se e renovando-se infinitamente... ou perto de uma cachoeira, enfim... a única forma que ainda não experimentei foi a recém sugerida por um amigo "engraçadinho" de olhar, em plena Linha Amarela, para o céu enquanto dirigia... De resto, levo tão a sério o conselho de mami, que hoje, se não tiver o contexto perfeito, serve a cama mesmo com o teto branco, rs.

Brincadeiras à parte, hoje é feriado... assim está nascendo este texto. Curioso... sempre que avistamos uma oportunidade como a de hoje vemos a palavra LAZER piscar em neon. E, por vezes, nos enchemos de mais "compromissos" que nos distraiam das responsabilidades e dificuldades do cotidiano... Mas a proposta da minha mãe (de quem conhece bem a cria) era... pare tudo, não faça absolutamente nada. Fique só com o silêncio... sinta a própria respiração... se preciso, fique olhando para o branco do teto... e se concentre para fazer calar a multidão de vozes e pensamentos que estão naquela confusão e exaustão do dia-a-dia.

Lembrei agora da cegueira do Saramago... ela não era escura como a natural, era branca, branco leitoso, mas feito névoa, finíssimo (seria o meu teto? rs). Fora uma cegueira passageira, mas reveladora. Havia uma personagem infiltrada no meio do grupo de cegos confinados, a única que, sem qualquer explicação, ficou imune. Por curiosidade, ela era a mulher do médico... qualquer semelhança é mera coincidência. Com o passar do tempo, conforme os "doentes" se adaptavam à sua nova condição e aguçavam os demais sentidos, pairava a indagação: quem tinha melhor percepção da realidade... ela ou eles?

Divagações à parte, há algumas semanas, senti uma vontade enorme de encontrar uma caverna. Se pudesse, meu único desejo naquele momento era sumir. Às vezes, isso acontece e, nessas horas, sei que os limites estão acendendo a luz vermelha... preciso de pausa.

Interessante o relato da fuga de Elias ao deserto. Com a cabeça a prêmio depois de nada ter feito, senão cumprido a sua missão, a fadiga física e emocional era tão intensa, que ele pediu para si a morte. Demônios nossos que nascem do cansaço e da solidão!!! Procuramos "o deserto" como saída mais fácil à opressão da qual não conseguimos dar conta.

Essa passagem bíblica, além de belíssima, também revela um segredo muito importante: o da nossa percepção de Deus diante da vida. O texto parece contraditório à primeira vista, pois diz que o Senhor passava... Ou seja, ele estava ali, presente. Aliás, nunca se ausentara. Ao mesmo tempo, diz que o Senhor passava e havia um grande e forte vento que fendia os montes, mas ele não estava no vento; um terremoto, e não estava no terremoto; depois um fogo e não estava no fogo. Afinal: Ele passava ou não passava? Estava ou não estava? Mas então... "veio o cicio tranquilo e suave". Pela lógica da construção textual, ficamos esperando o seguinte complemento... "e eis que o Senhor estava no cicio". No entanto, a conclusão não nos chega dessa forma... ela começa por "ouvindo-o Elias".

Eis o ponto... a percepção humana. Deus está sempre conosco, cuidando, alimentando e sustentando para a caminhada, mas precisamos afastar a agitação dos ventos, do terremoto, do fogo, para ouvir a sua voz, que é sempre suave por seu amor e graça, seja a palavra de consolo, repreensão ou encorajamento. Só poderemos ouvi-la depois que tivermos feito a pausa necessária parar curar o cansaço e a solidão que despertam temores infundados. Não que os medos não sejam sérios e compreensíveis. Pelo contrário, Jesus experimentou nossa fragilidade, nossas dores, necessidades e conflitos. Sabe o que é sofrer. Ainda assim, se pudéssemos viver sempre na plenitude da confiança no Pai, diríamos convictos como ele, mesmo diante da angústia da doença que acometia o amigo Lázaro: ela não é para a morte, mas para a glória de Deus.

Lembro de uma situação bem recente vivida por uma amiga. O cerco parecia ter se fechado na sua vida, tudo estava desmoronando e parecia não haver saída. Recordo que me senti frágil e inútil sem ter sequer palavras a dizer e muito menos algo a fazer. E me veio à boca apenas isso: não sei como, nem em que momento, mas sei que Deus agirá. Ele já está agindo, embora nossos olhos ainda não alcancem. Já vivi situações clássicas de "salva pelo gongo", mas em todas elas, tenha sido mansa ou esperneado bastante no processo, percebi que estava sendo moldada a descansar, entregar e esperar.

Esta semana recebi, com muita alegria, um email desta amiga em que dizia: "estou muito feliz, num piscar de olhos, o cenário mudou; precisava te contar isso". Ah, como Deus é bom!!!! Meu pastor certa vez brincou: Deus é "irritantemente" bom. E não é mesmo? Por vezes, ele cerra todas as portas só para nos lembrar e dar a certeza de que todas as chaves estão nas suas mãos, e serão usadas para nosso bem. O problema, às vezes, é que APENAS confiar, ufa!, é difícil.... nós queríamos ter o molho, rs. Certamente, para nos atrapalharmos com ele...

"Tudo posso naquele que me fortalece", diz a Palavra. Sem Ele, somos apenas pó, com Ele, podemos ser luz, cruzando o espaço de uma forma que nem toda a ciência foi ainda capaz de reproduzir. Podemos brilhar refletindo a luz eterna de quem governa as estrelas e ao mesmo tempo cuida e vive pessoalmente em cada um de nós.

Essa verdade não muda, mas a nossa percepção dela pode ficar por vezes bastante turva e alterada.

Quando estudava música, esta era uma das principais lições. Todo aluno, afoito como de costume, só quer aprender a execução... mas execução parece sempre ação e não espera. Logo vinha a instrução: sinta o silêncio na música... é ele que encerra momentos, dá respiração, e prepara o que vem a seguir. Por isso, aprecie a pausa. É essencial, sem ela não há música.

O silêncio e a quietude são capazes de restaurar a medida certa de todas as coisas. Ajudam a dissipar os temores que nascem de nossa própria imaginação. Fazem-nos ouvir melhor a voz do alto que mostra o caminho. Esvazie-se, fique com o nada. E então perceba o quanto Deus é misericordioso em fazer-nos transbordar.

Aquele abraço, bom feriado!


sábado, 10 de abril de 2010

Das utopias

E então alguém diz que não se deve sonhar tanto na vida, porque utopias só trazem frustração. E eu penso: depende do que se considere mais forte na utopia.

A certeza do ideal ou do impossível?

E guardo as palavras do Quintana...

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Desejos (2).. para o íntimo.

Desejo primeiro que você seja inteiro e assim grande*. Que se descubra, desnude, em qualidades e defeitos, para que viva na luz e sejam autênticos todos os seus relacionamentos.

Desejo que se assuma para que não tenha de valer-se de máscaras, pois não se sustentam em qualquer circunstância. Podem parecer bonitas e aderentes com o tempo, mas corroem o caráter, sugam as forças, provocam cisões na mente e na alma, são desencontros de nós mesmos. Bom seria recordar sempre que os piores disfarces são aqueles que mantemos a sós com o espelho.

Desejo ainda que você queira mudar e crescer à medida de suas descobertas mais íntimas e que se proponha a fazê-lo de modo genuíno, sem trocar simplesmente de pele.

Que seja corajoso e antes de tudo entenda que o maior perigo não está do lado de fora, mas dentro de você. Que tenha ousadia para enfrentar a si mesmo e tratar o próprio veneno.

Que você aprecie, busque e promova o que é belo, bom e agradável... para que a vida em você e ao seu redor sorria mesmo diante de lágrimas.

Que seus pensamentos e palavras sejam sábios e puros. Que não se tornem simples discurso ao vento, mas que o conduzam a tocar a realidade, ser transformação.

Que você aprecie o maravilhoso sabor de compartilhar e que cultivar amizades torne-se o seu melhor hábito.

Que o seu horizonte se amplie e veja um universo além de sua redoma. Somos todos necessitados e "igualmente diferentes". Que você conheça o que é dar e receber. Que saiba ensinar, mas antes aprender.

Que aprendendo, valorize a entrega, sem confundi-la com utilidade. Que seja capaz de admirar e desfrutar de uma mão estendida e um coração apto a dividir. E que jamais use as pessoas que assim se dispõem a viver por vocação ou escolha. Mais ainda, que você viva para ser contado entre elas.

Acima de tudo, que você ame em todas as dimensões. Que amor não se confunda com incapacidade de estar só, porque às vezes é preciso. Seja, sim, um sentimento-atitude, que o mova em direção ao outro e o faça recordar todos os dias que ninguém é auto-suficiente.

Desejo, pois, que você seja inundado a cada dia pelo dom maior do Criador. Que o amor transborde e exale por cada poro do seu corpo e cada sentido da sua alma.

E se assim for, tenho certeza de que será um grande homem, uma grande mulher.

E muito pouco restará a desejar de íntimo a íntimo, pois você será o sonho em si.

E então desejo apenas que este seja o seu desejo para mim.


*Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis/FP

terça-feira, 6 de abril de 2010

Decisão

__________________________________________________


- Isto é uma linha?!!!

- Sim, uma linha. Divisória. Pq? Ruim, tá muito reta? Acho que estava num momento meio ... digamos, objetivo. Um pouco cansada das curvas.

- Não, não. A linha parece ótima. Só não entendi direito pq você colocou isso aí.

- Ah tá, parece meio sem sentido, eu sei. É que só agora descobri que traçá-la é fácil, quase um passe de mágica. O problema é que, às vezes, custa tanto a chegar que fiquei realmente impressionada com o traballho que deu concluir algo tão simples. A vida é realmente engraçada. Importante registrar. Deixa aí.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Recortando... sobre despedidas (2)

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos!"


Atribuído a Fernando Pessoa/
Fernando Teixeira de Andrade

Clamor necessário

"O que mais preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons".

Martin Luther King

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Chegada e partida

Por enquanto

Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente...

Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre, sem saber, que o pra sempre
Sempre acaba...

Mas nada vai conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém só penso em você
E aí, então, estamos bem...

Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar, agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa...

Renato Russo


A despedida era tão certa quanto fora o encontro, mas nem um nem outro decidiu fazê-la.
E no oceano de coincidências de que tinha sido feita aquela relação, havia enfim mais uma, última e definitiva. E por ela partiram, cada um para o seu lado, num mesmo e exato momento. Não houve adeus ou até breve. Simplesmente assim foi, como acontece a vida.
Na bagagem, apenas uma certeza: o tempo tinha se cindido... só havia antes e depois. Nas histórias pessoais, tudo se definia a partir daquele marco, do momento em que se cruzaram e, lançada a semente, por certo espaço embrionaram uma mesma história, dividindo o que passou e vendo algo novo ganhar vida: eles mesmos, desvelando-se. E sonharam. Mas não era para colherem juntos. Os frutos pertenciam a outra estação. Fora, apenas e tudo, o marco de um descobrimento, breve, fundo e único como devia ser.

Modernidade e ambivalência

De uma notícia entre amigos, surgiu um papo que me fez pensar a respeito das narrativas pessoais, comunitárias, culturais, enfim, as diferentes perspectivas sobre a vida... De imediato, recordei um texto do Bauman, que me marcou há alguns anos atrás (este post leva o título da obra).

Vale muito a nota:


O mundo moderno é um mundo de conflito: é também o mundo de um conflito que foi interiorizado, que virou um conflito interior, um estado de ambivalência e contingência pessoais...

Nenhuma interpretação é completa nem permite que se satisfaça com a sua verdade, proclama Freud - embora sempre lute para tal e, enquanto luta, possa de fato "melhorar". Mas "melhorar" não significa aproximar-se mais da verdade que possa legitimamente excluir suas alternativas. Significa, ao contrário, mais tolerância face a contra-interpretações suspeitas e ainda desconhecidas, mais modéstia e uma perspectiva ampla o bastante para incluir outras possibilidades já adivinhadas ou ainda insuspeitadas... Toda construção, por assim dizer, "é incompleta, uma vez que cobre apenas um pequeno fragmento dos eventos esquecidos"...

O mundo é ambivalente, embora seus colonizadores e governantes não gostem que seja assim e tentem a torto e a direito fazê-lo passar por um mundo não ambivalente. As certezas não passam de hipóteses, as histórias não passam de construções, as verdades são apenas estações temporárias numa estrada que sempre leva adiante mas nunca acaba...

A ambivalência não é para ser lamentada. Deve ser celebrada. A ambivalência é o limite de poder dos poderosos. Pela mesma razão, é a liberdade daqueles que não têm poder.

Segundo Bauman, é esta ambivalência, refletida na riqueza de sentidos da realidade humana, que permite deixar as perguntas figurarem como parte das respostas.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Desejo (Os Votos)

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.

Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga “Isso é meu”,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

* Ouvi declamada pela primeira vez em 2008, como sendo de autoria do poeta francês Victor Hugo. Desconfiadíssima dessa origem, varri a internet (com auxílio do Oráculo pós-moderno, google) atrás de alguma pista divergente. Encontrei. Ela seria, na verdade, de Sergio Jockymann, publicada em 1980 no Jornal Folha da Tarde, de Porto Alegre-RS. Certamente, antes de mim e de você, quem a encontrou em cheio foi o Frejat.
Mas, enfim, detalhes... o que importa: é belíssima e, sem dúvida alguma, desde o dia em que a ouvi, nunca mais esqueci. Desejo cada verso às pessoas mais queridas presentes na minha vida, seja esta presença ainda fruída na proximidade ou hoje feita apenas das marcas e lembranças, parte do que sou.

Aos meus amados, aos meus amores, aos meus queridos, aos meus amigos, aos meus fora de mim, que consigo levam, para onde forem, um cadinho deu. A vocês.

sábado, 20 de março de 2010

A um post da fama

A internet realmente nos proporciona momentos hilários.

Entra ontem no meu email uma notificação do Youtube de que recebi um comentário ao meu vídeo.

O que? Vídeo? Como? Quando? Onde? Por que? Jura?

Vou lá checar... nossa! Aquilo realmente existia? rs

Faz tempo.... eu precisava fazer alguma coisa com uma sequência de fotos daquele paraíso chamado Arraial do Cabo. Não conseguia ficar com o acervo de imagens guardado no computador simplesmente.

Resolvi editar com uma música que adoro, Amor de Índio, de Beto Guedes, na voz de Milton Nascimento, e Wagner Tizzo ao teclado, transpondo os versos mágicos de Vinícius de Moraes em Soneto de Fidelidade.

Lembro-me apenas de ter dedicado a um casal de amigos, Amilcar e Bete, e compartilhado com alguns colegas da faculdade.

Minha gente, mas não é que um ser desconhecido-conectado achou... e ainda registrou um comentário em espanhol??? kkkk
Esqueci que o youtube é isso.

Ah, pronto... já decidi, mais um post por lá e me rendo ao estrelato. Vou jogar tudo para o alto... e viver de editar vídeos. Alguém sabe se dá dinheiro?

Fala sério, que comédia!

http://www.youtube.com/watch?v=jrJmYGbB9Cw

A Cabana

Nunca fui muito adepta de fenômenos de massa, à exceção do futebol, do Maraca e do Mengão, é claro ;-)

Mas vivendo e aprendendo a abrir os horizontes, tento manter-me hoje alerta quando em mim percebo preferências ou objeções muito "convictas", rs.

Foi assim quando me indicaram a leitura de A Cabana, um fenômeno recente no campo literário. Houve debate sobre o livro na igreja em que congrego, mas como ando sem tempo e se tratava de um best-seller da era panfletária de internet, com direito a site e tudo mais, não me animei, posterguei e por fim esqueci.

Mas um dia, no saguão do aeroporto, um pequeno desencontro no horário e um trident de hortelã me renderam a vista do livro na banca... resolvi comprá-lo e começar a folhear, enquanto pedia uma bebida pra passar o tempo.

Lembrei hoje de dizer: leiam!

Não, não é nem de longe uma obra-prima literária, um dos melhores livros que li na vida... seria um absurdo dizê-lo. Mas é apenas por um aspecto muito marcante do texto, que considero essencial para uma vida ao mesmo tempo mais sólida e livre: desconstrução!

Como assim mais sólida e mais livre? Mais rígida e fluida? Pirou? Sim, sempre fui, não tinha notado? Mas, tudo bem, nesse caso eu até me explico.

O ser humano tem medo de ser questionado. Quem nunca viu alunos aborrecidos com professores que quase se descontrolam pelo pânico às perguntas capciosas em sala? Se for branquinho, então, começam a subir aquelas placas vermelhas pelo pescoço (eu tive uma assim, rs).

Nosso medo é maior ainda quando a alfinetada da dúvida vem de dentro e ameaça abalar convicções. Queremos chão a todo o tempo, ou parece que a casa vai desmoronar. Mas afinal, por que o medo de conviver com perguntas continuamente?

Se você acredita que haja verdades a serem buscadas, desocupe-se de construir certezas em torno delas... se são verdades, não perca o seu sono, elas sobreviverão a qualquer tranco. Concentre-se no caminho, não antecipe a chegada.

É saudável questionar, é saudável duvidar... doentio é erguer fortalezas em torno de castelos de areia. Uma edificação vale o tanto que é capaz de resistir a vento, tempestade, terremoto etc. Só pode ser aprovado aquilo que se põe a teste.

Alguns lerão isso aqui e terão o prazer imediato de rotular: herege! [rsrs] Sugere que questionemos tudo, até Deus? Eu nem responderia, faria apenas outras perguntas: por que, sua existência e propósito seriam abalados com isso? Bem, nesse caso... E o que está em questão? Deus ou o que pensamos sobre Ele?

Lembra do ditado “quem tem boca vai a Roma”?** Pois bem, quem passa peregrino, indagando, é porque está na busca e não se acomoda enquanto não achar o que procura. Quem sabe perguntar tem mais chances de encontrar. E se acredita ter chegado, não fará mal algum desconfiar de vez em quando só para ver se não é hora de andar mais um pouco.

Voltando a A Cabana, aí vai a dica: disponha-se a virar um pouco do avesso. É uma viagem, talvez dê um tantinho de náuseas, mas valerá a pena. Nem que seja só para despertar o hábito de “buscar outros ângulos”.

Não se preocupe em “proteger” verdades, elas não precisam assim de você, vivem por si próprias.

Vale muito mais o martírio humilde e vitorioso de uma verdade golpeada do que o domínio cego e soberbo de uma mentira intocada.


**Só de curiosidade. Dizem haver outra versão do ditado, mas ainda não consegui me convencer da origem de "quem tem boca VAIA Roma".

sexta-feira, 19 de março de 2010

Inebriante

Depois de muita chuva... é manhã, nasceu a luz. Abro os olhos e contemplo o céu de um azul tão límpido e pleno que hipnotiza. Brisa leve, cores sorrindo.

A minha cidade maravilhosa inspira, ensolarada.

E quem é capaz de dizer:

"ah, mera coincidência",

que sejam nesta vida
os mais belos dias
os que cantam em sol maior
o adeus a um temporal?

Acima das nuvens carregadas, ainda brilha, imponente, a estrela de luz e calor. É assim no tempo, é assim na alma. Venta... passa. É manhã de sol outra vez.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Sobre a idade (2) ... engatinhando.

Relendo umas anotações... encontro isso aqui. Texto concebido na virada, boa lembrança, ainda sinto cada letra.

Neste fim de ano, tenho só a agradecer a Deus... pelo tempo em que o chão sumiu e ali provei do seu sustento, por ensinar-me do silêncio, da beleza da composição na pausa, pelo aprendizado e pessoas excepcionais no caminho, pelo descanso, leveza e alegria, por tanto amor, por experimentá-lo de perto e descobrir o que é ter verdadeira paz. Na certidão, consta 1981, mas eu nasci de novo em 2009.

Um flash, muitas recordações

Experiência simples.

Num qualquer dia desses aí, passava eu, ou melhor, engarrafava eu de ônibus no cruzamento das avenidas Presidente Vargas e Rio Branco. Meio-dia e meia, centro do Rio, multidão, sol a pino.

Um mar de cores vem como onda à luz verde da travessia. De repente, me vi captada por aquela cena tão comum, mas nunca igual, e a mente foi longe. Peguei uma pequena agenda de propaganda e comecei a rascunhar.

"Corações em marcha, histórias cruzadas, esperanças, expectativas, preocupações, anseios, vozes, problemas, lembranças, sonhos, afetos... pessoas que carregam outras em si. Ondas no mar, encontros e desencontros. Multiplicidade. Num piscar de olhos, a magia de um universo infinito além de mim. Convite para viver! Há tanto, tanto e tanto a .................................".

Olhei pra trás, não do ônibus (acorda!), da minha vida. A gente demora a fazer essas coisas. Pois vou aproveitar a oportunidade para homenagear alguns dos meus grandes amigos, com quem divido mais, guardados a sete chaves. Dizer o quanto eles encheram de alegria e prazer a minha vida quando saíram do meio da multidão para se tornarem únicos e especiais no caminho.

Vocês são grandes surpresas, presentes do céu!

A vocês, Teinha, Elaine, Déa, Paulinha, Amílcar, Felippo, que não vieram do sangue, mas do coração, minha gratidão por fazerem a vida valer tanto a pena. Porque, em algum momento, num flash singular desse turbilhão em que vivemos, vocês me mostraram que todo dia pode ser o dia de surgir um olhar, um toque diferente do meio da multidão. Presença marcante, que permanecerá para toda a vida.

Tapete estendido, pede passagem o grande Gonzaguinha...

...
E aprendi que se depende sempre
De tanta, muita, diferente gente
Toda pessoa sempre é as marcas
Das lições diárias de outras tantas pessoas

E é tão bonito quando a gente entende
Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá
E é tão bonito quando a gente sente
Que nunca está sozinho por mais que pense estar

É tão bonito quando a gente pisa firme
Nessas linhas que estão nas palmas de nossas mãos
É tão bonito quando a gente vai à vida
Nos caminhos onde bate bem mais forte o coração.

Do Quintana, só um lembrete

Me deliciei ao ver este texto hoje no blog da minha querida amiga Stella Junia e resolvi trazê-lo para cá também.

Um dos maiores escritores brasileiros, Quintana é simplesmente genial.

Só um lembrete ...

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.
Desta forma, eu digo:
Não deixe de fazer algo que gosta, devido à falta de tempo,
pois a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais.


Mário Quintana

quarta-feira, 17 de março de 2010

Sobre a idade

Com licença do uso, extraído de um papo super descontraído com uma figura das antigas hoje:

“-Bem, quando eu estava com 18, tinha 40, hoje, com 29, tenho 20. Faz essa matemática aí que vai chegar na média...”.

“-Hahaha, confesso que gostei da matemática. Me preocupa se continuar nessa regressão... com 39 uns 10... vai ficar meio brabo”.

E senti na hora nascer uma ruga de preocupação no cantinho do olho esquerdo...

Fio solto

Um pequeno evento hoje à tarde... e veio a avalanche.

Que estranho dom é esse de encantar, mas não ser o encanto? De trazer as questões certas e no fim não ser a resposta? De evidenciar a lacuna, mas não ser o encaixe. De ter a fórmula, mas não ser o remédio? De ser a flor que acorda os sentidos, mas não a que é escolhida para o jardim? De levar à busca pelo melhor, mas nunca estar lá para presenciar o encontro?

Se você não entendeu nada, bem-vindo ao meu planeta. Eu também não entendo. Muitas vezes, fico só com a pergunta...

Perguntas são inevitáveis. Puxa-se um pequeno fio e....

São como pontinhas de icebergs. Elas nos movem, nem sempre atrás das respostas, mas certamente a outras perguntas mais fundamentais.

Essa foi do tipo pergunta-sem-resposta, talvez inútil, mas latejou, inevitável. Há perguntas passatempo, perguntas pq-o-tempo-passou, perguntas essenciais, perguntas decisivas, perguntas existenciais, perguntas sem-noção, perguntas fora-de-hora, perguntas e-agora?, e tantas outras que não lembro, mas sei que me perguntei.

Sou uma indagação ambulante. Quem é assim vai me entender. Quem não, me achará totalmente maluca. E eu nem vou fazer essa pergunta-já-sei-a-resposta.

domingo, 14 de março de 2010

Quem eu sou?

Se vc tem uma conta de orkut, facebook, twitter e afins, sabe do que estou falando.
Item padrão a preencher: quem eu sou?

Se vc resolve criar um blog, como eu acabo de fazer, lá vem a tal perguntinha de novo...

Ela sempre me irritou um pouco, não sabia exatamente o motivo. No mínimo, porque eu não levava jeito para ser bula de remédio, com definições, prescrições e advertências para o uso. Mas, pensando mais a sério, percebi que é uma incompatibilidade com minha forma de ver a vida hoje.

Afinal, por que definir? Deixa ser o que for, como e quando for.

Para nós, viver será sempre mistério.

O presente em um segundo é passado. Vidas entrelaçadas, razão, emoção, rumos, memórias, acertos e erros... tudo vai mudando nossas cores, nossos tons, tecendo e tecendo, enquanto o futuro vem de lá, lançando seus raios no horizonte... nascendo em nós, presente.

É fluxo, é vida, é respiração, é rio que corre... como de-finir, como de-terminar, de-limitar?

Quem eu sou, quem é você? Depende... quando? Neste estalar de dedos ou no próximo? E me lembro da canção... "o futuro é uma astronave que tentamos pilotar. Não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar. Sem pedir licença, muda a nossa vida e depois convida a rir ou chorar…". E, se "nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá", qual o segredo? Depois de algum tempo e muitas doses de tylenol (é pq sou alérgica a aspirina, rs), cheguei à conclusão: desistir de pilotar. Manter-se aberto até mesmo às direções insuspeitas, confiar e descansar.

Opa! Mas é difícil demais! Sim, e por isso fracassamos tanto, especialmente nos nossos relacionamentos. É porque a qualidade deles é proporcional ao nível de entrega e confiança... assim ocorre entre as pessoas, e infinitamente mais entre nós e Deus. O problema é que temos a tendência de converter entrega em dívida e confiança em expectativa disso ou daquilo. Saímos da essência, da disposição genuína, e lá vamos nós para a compulsão por segurar, controlar alguma coisa... os dedos coçam (os neurônios também).

Crer na condução, render-se ao amor, viver pela graça: imenso desafio! Somos teimosos, ansiosos! Mas esta é a obra do Pai em nós, e Ele é fiel para completá-la.

A verdade bastará a cada momento. Se a busca for verdadeira, o encontro também o será. O texto bíblico diz: ".. e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". O significado da frase vai muito além do reconhecimento do plano salvífico e se liga à amplitude infinita do amor de Deus, do amor de Deus por nós, do amor de Deus em nós, que faz brotar amor-próprio, amor-próximo, amor que move a história, que é revelação, pelo qual podemos construir a nossa história sob luz, e lançar a claridade sobre todos os pontos, mesmo aqueles que teríamos o impulso de ocultar... história do que fomos, somos e ainda viremos a ser.

Essa verdade só pode ser buscada aos pés da cruz, porque a sinceridade, a honestidade, a capacidade de nos desnudarmos e apresentarmos sem máscaras diante de Deus (como se Dele pudéssemos esconder algo!), de nós mesmos e daqueles que nos cercam está corrompida em nossa natureza... é dom do alto, dom que restaura, que reconecta.

O pecado busca o escuro, cria sombras na alma, afasta a luz, cria cavernas, onde as pessoas e as relações adoecem. Só o brilho da verdade liberta. Porque a verdade não precisa de forma própria, de polidez para ser apresentada, ela simplesmente é ou não é. Se algo deve ser mudado é preciso primeiro que esteja sob o sol, para que possa ser visto, percebido e tratado. A verdade liberta porque não há cadeias que possam contê-la. E só a liberdade traz VIDA.

Lembro-me da conversa que tive certa vez com um juiz de uma vara criminal. Ele dizia que, sempre, o mais notório e marcante para ele nas audiências era observar a "cor" dos presos. "-Eles têm uma cor, qualquer que seja o tom da pele, é 'mofada', inconfundível. Por vezes, quando há fuga das prisões, sendo imediata a busca, é possível identificar os foragidos porque se distinguem das demais pessoas na rua. A cadeia, o enclausuramento, traz a eles uma cor 'sem vida'". Claro, trata-se de aspecto físico, mas creio que seja uma metáfora apropriada ao que se passa em nossos corações quando sufocados muito tempo por máscaras, sombras, esconderijos.

Quem eu sou? Quem é vc? Voltamos à nossa pergunta. Não falo aqui de fenótipo ou personalidade. É claro que nossos traços nos diferenciam. Mas o que somos em essência? E trago à memória um tweet do Ricardo Gondim: "quem diz eu nunca mudei em minhas convicções ou é mentiroso ou é insano".

Numa linguagem bem "internet", somos páginas em construção!!!! Com direito à figura do bonequinho com britadeira, picareta, sei lá mais o quê, rs.

Isso talvez nos desestabilize e dê medo, porque prefirimos a ilusão da certeza à angústia do indefinido. Mas há um caminho: "não tenhas sobre ti um só cuidado qualquer que seja, pois um, somente um, seria muito para ti". Lancemos sobre Ele, é o conselho do Mestre.

Eu espero sinceramente que você não tenha frases prontas para dizer a mim quem você é. Eu não quero tê-las a meu respeito. Prefiro a jornada, o aprendizado e as oportunidades do caminho, o horizonte aberto às mudanças. Se Cristo é o alvo, e alvo permanente, em quem não há sombra de mudança, assim o é por ser Deus, Aquele que É desde a eternidade, a própria perfeição. Nós não, somos projeto e projeção, sendo edificados e buscando nitidez.

Esta é a mão de Deus sobre mim, a obra do Pai. Conheço de ter experimentado. Meu desejo é apenas vivê-la, feliz por ser em tudo a Sua vontade. E se você respira, pensa, ama... bem, se vc é dos meus, tipo assim, humano, rs... é também o que desejo para a sua vida.