segunda-feira, 22 de março de 2010

Desejo (Os Votos)

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.

Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga “Isso é meu”,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

* Ouvi declamada pela primeira vez em 2008, como sendo de autoria do poeta francês Victor Hugo. Desconfiadíssima dessa origem, varri a internet (com auxílio do Oráculo pós-moderno, google) atrás de alguma pista divergente. Encontrei. Ela seria, na verdade, de Sergio Jockymann, publicada em 1980 no Jornal Folha da Tarde, de Porto Alegre-RS. Certamente, antes de mim e de você, quem a encontrou em cheio foi o Frejat.
Mas, enfim, detalhes... o que importa: é belíssima e, sem dúvida alguma, desde o dia em que a ouvi, nunca mais esqueci. Desejo cada verso às pessoas mais queridas presentes na minha vida, seja esta presença ainda fruída na proximidade ou hoje feita apenas das marcas e lembranças, parte do que sou.

Aos meus amados, aos meus amores, aos meus queridos, aos meus amigos, aos meus fora de mim, que consigo levam, para onde forem, um cadinho deu. A vocês.

sábado, 20 de março de 2010

A um post da fama

A internet realmente nos proporciona momentos hilários.

Entra ontem no meu email uma notificação do Youtube de que recebi um comentário ao meu vídeo.

O que? Vídeo? Como? Quando? Onde? Por que? Jura?

Vou lá checar... nossa! Aquilo realmente existia? rs

Faz tempo.... eu precisava fazer alguma coisa com uma sequência de fotos daquele paraíso chamado Arraial do Cabo. Não conseguia ficar com o acervo de imagens guardado no computador simplesmente.

Resolvi editar com uma música que adoro, Amor de Índio, de Beto Guedes, na voz de Milton Nascimento, e Wagner Tizzo ao teclado, transpondo os versos mágicos de Vinícius de Moraes em Soneto de Fidelidade.

Lembro-me apenas de ter dedicado a um casal de amigos, Amilcar e Bete, e compartilhado com alguns colegas da faculdade.

Minha gente, mas não é que um ser desconhecido-conectado achou... e ainda registrou um comentário em espanhol??? kkkk
Esqueci que o youtube é isso.

Ah, pronto... já decidi, mais um post por lá e me rendo ao estrelato. Vou jogar tudo para o alto... e viver de editar vídeos. Alguém sabe se dá dinheiro?

Fala sério, que comédia!

http://www.youtube.com/watch?v=jrJmYGbB9Cw

A Cabana

Nunca fui muito adepta de fenômenos de massa, à exceção do futebol, do Maraca e do Mengão, é claro ;-)

Mas vivendo e aprendendo a abrir os horizontes, tento manter-me hoje alerta quando em mim percebo preferências ou objeções muito "convictas", rs.

Foi assim quando me indicaram a leitura de A Cabana, um fenômeno recente no campo literário. Houve debate sobre o livro na igreja em que congrego, mas como ando sem tempo e se tratava de um best-seller da era panfletária de internet, com direito a site e tudo mais, não me animei, posterguei e por fim esqueci.

Mas um dia, no saguão do aeroporto, um pequeno desencontro no horário e um trident de hortelã me renderam a vista do livro na banca... resolvi comprá-lo e começar a folhear, enquanto pedia uma bebida pra passar o tempo.

Lembrei hoje de dizer: leiam!

Não, não é nem de longe uma obra-prima literária, um dos melhores livros que li na vida... seria um absurdo dizê-lo. Mas é apenas por um aspecto muito marcante do texto, que considero essencial para uma vida ao mesmo tempo mais sólida e livre: desconstrução!

Como assim mais sólida e mais livre? Mais rígida e fluida? Pirou? Sim, sempre fui, não tinha notado? Mas, tudo bem, nesse caso eu até me explico.

O ser humano tem medo de ser questionado. Quem nunca viu alunos aborrecidos com professores que quase se descontrolam pelo pânico às perguntas capciosas em sala? Se for branquinho, então, começam a subir aquelas placas vermelhas pelo pescoço (eu tive uma assim, rs).

Nosso medo é maior ainda quando a alfinetada da dúvida vem de dentro e ameaça abalar convicções. Queremos chão a todo o tempo, ou parece que a casa vai desmoronar. Mas afinal, por que o medo de conviver com perguntas continuamente?

Se você acredita que haja verdades a serem buscadas, desocupe-se de construir certezas em torno delas... se são verdades, não perca o seu sono, elas sobreviverão a qualquer tranco. Concentre-se no caminho, não antecipe a chegada.

É saudável questionar, é saudável duvidar... doentio é erguer fortalezas em torno de castelos de areia. Uma edificação vale o tanto que é capaz de resistir a vento, tempestade, terremoto etc. Só pode ser aprovado aquilo que se põe a teste.

Alguns lerão isso aqui e terão o prazer imediato de rotular: herege! [rsrs] Sugere que questionemos tudo, até Deus? Eu nem responderia, faria apenas outras perguntas: por que, sua existência e propósito seriam abalados com isso? Bem, nesse caso... E o que está em questão? Deus ou o que pensamos sobre Ele?

Lembra do ditado “quem tem boca vai a Roma”?** Pois bem, quem passa peregrino, indagando, é porque está na busca e não se acomoda enquanto não achar o que procura. Quem sabe perguntar tem mais chances de encontrar. E se acredita ter chegado, não fará mal algum desconfiar de vez em quando só para ver se não é hora de andar mais um pouco.

Voltando a A Cabana, aí vai a dica: disponha-se a virar um pouco do avesso. É uma viagem, talvez dê um tantinho de náuseas, mas valerá a pena. Nem que seja só para despertar o hábito de “buscar outros ângulos”.

Não se preocupe em “proteger” verdades, elas não precisam assim de você, vivem por si próprias.

Vale muito mais o martírio humilde e vitorioso de uma verdade golpeada do que o domínio cego e soberbo de uma mentira intocada.


**Só de curiosidade. Dizem haver outra versão do ditado, mas ainda não consegui me convencer da origem de "quem tem boca VAIA Roma".

sexta-feira, 19 de março de 2010

Inebriante

Depois de muita chuva... é manhã, nasceu a luz. Abro os olhos e contemplo o céu de um azul tão límpido e pleno que hipnotiza. Brisa leve, cores sorrindo.

A minha cidade maravilhosa inspira, ensolarada.

E quem é capaz de dizer:

"ah, mera coincidência",

que sejam nesta vida
os mais belos dias
os que cantam em sol maior
o adeus a um temporal?

Acima das nuvens carregadas, ainda brilha, imponente, a estrela de luz e calor. É assim no tempo, é assim na alma. Venta... passa. É manhã de sol outra vez.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Sobre a idade (2) ... engatinhando.

Relendo umas anotações... encontro isso aqui. Texto concebido na virada, boa lembrança, ainda sinto cada letra.

Neste fim de ano, tenho só a agradecer a Deus... pelo tempo em que o chão sumiu e ali provei do seu sustento, por ensinar-me do silêncio, da beleza da composição na pausa, pelo aprendizado e pessoas excepcionais no caminho, pelo descanso, leveza e alegria, por tanto amor, por experimentá-lo de perto e descobrir o que é ter verdadeira paz. Na certidão, consta 1981, mas eu nasci de novo em 2009.

Um flash, muitas recordações

Experiência simples.

Num qualquer dia desses aí, passava eu, ou melhor, engarrafava eu de ônibus no cruzamento das avenidas Presidente Vargas e Rio Branco. Meio-dia e meia, centro do Rio, multidão, sol a pino.

Um mar de cores vem como onda à luz verde da travessia. De repente, me vi captada por aquela cena tão comum, mas nunca igual, e a mente foi longe. Peguei uma pequena agenda de propaganda e comecei a rascunhar.

"Corações em marcha, histórias cruzadas, esperanças, expectativas, preocupações, anseios, vozes, problemas, lembranças, sonhos, afetos... pessoas que carregam outras em si. Ondas no mar, encontros e desencontros. Multiplicidade. Num piscar de olhos, a magia de um universo infinito além de mim. Convite para viver! Há tanto, tanto e tanto a .................................".

Olhei pra trás, não do ônibus (acorda!), da minha vida. A gente demora a fazer essas coisas. Pois vou aproveitar a oportunidade para homenagear alguns dos meus grandes amigos, com quem divido mais, guardados a sete chaves. Dizer o quanto eles encheram de alegria e prazer a minha vida quando saíram do meio da multidão para se tornarem únicos e especiais no caminho.

Vocês são grandes surpresas, presentes do céu!

A vocês, Teinha, Elaine, Déa, Paulinha, Amílcar, Felippo, que não vieram do sangue, mas do coração, minha gratidão por fazerem a vida valer tanto a pena. Porque, em algum momento, num flash singular desse turbilhão em que vivemos, vocês me mostraram que todo dia pode ser o dia de surgir um olhar, um toque diferente do meio da multidão. Presença marcante, que permanecerá para toda a vida.

Tapete estendido, pede passagem o grande Gonzaguinha...

...
E aprendi que se depende sempre
De tanta, muita, diferente gente
Toda pessoa sempre é as marcas
Das lições diárias de outras tantas pessoas

E é tão bonito quando a gente entende
Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá
E é tão bonito quando a gente sente
Que nunca está sozinho por mais que pense estar

É tão bonito quando a gente pisa firme
Nessas linhas que estão nas palmas de nossas mãos
É tão bonito quando a gente vai à vida
Nos caminhos onde bate bem mais forte o coração.

Do Quintana, só um lembrete

Me deliciei ao ver este texto hoje no blog da minha querida amiga Stella Junia e resolvi trazê-lo para cá também.

Um dos maiores escritores brasileiros, Quintana é simplesmente genial.

Só um lembrete ...

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.
Desta forma, eu digo:
Não deixe de fazer algo que gosta, devido à falta de tempo,
pois a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais.


Mário Quintana

quarta-feira, 17 de março de 2010

Sobre a idade

Com licença do uso, extraído de um papo super descontraído com uma figura das antigas hoje:

“-Bem, quando eu estava com 18, tinha 40, hoje, com 29, tenho 20. Faz essa matemática aí que vai chegar na média...”.

“-Hahaha, confesso que gostei da matemática. Me preocupa se continuar nessa regressão... com 39 uns 10... vai ficar meio brabo”.

E senti na hora nascer uma ruga de preocupação no cantinho do olho esquerdo...

Fio solto

Um pequeno evento hoje à tarde... e veio a avalanche.

Que estranho dom é esse de encantar, mas não ser o encanto? De trazer as questões certas e no fim não ser a resposta? De evidenciar a lacuna, mas não ser o encaixe. De ter a fórmula, mas não ser o remédio? De ser a flor que acorda os sentidos, mas não a que é escolhida para o jardim? De levar à busca pelo melhor, mas nunca estar lá para presenciar o encontro?

Se você não entendeu nada, bem-vindo ao meu planeta. Eu também não entendo. Muitas vezes, fico só com a pergunta...

Perguntas são inevitáveis. Puxa-se um pequeno fio e....

São como pontinhas de icebergs. Elas nos movem, nem sempre atrás das respostas, mas certamente a outras perguntas mais fundamentais.

Essa foi do tipo pergunta-sem-resposta, talvez inútil, mas latejou, inevitável. Há perguntas passatempo, perguntas pq-o-tempo-passou, perguntas essenciais, perguntas decisivas, perguntas existenciais, perguntas sem-noção, perguntas fora-de-hora, perguntas e-agora?, e tantas outras que não lembro, mas sei que me perguntei.

Sou uma indagação ambulante. Quem é assim vai me entender. Quem não, me achará totalmente maluca. E eu nem vou fazer essa pergunta-já-sei-a-resposta.

domingo, 14 de março de 2010

Quem eu sou?

Se vc tem uma conta de orkut, facebook, twitter e afins, sabe do que estou falando.
Item padrão a preencher: quem eu sou?

Se vc resolve criar um blog, como eu acabo de fazer, lá vem a tal perguntinha de novo...

Ela sempre me irritou um pouco, não sabia exatamente o motivo. No mínimo, porque eu não levava jeito para ser bula de remédio, com definições, prescrições e advertências para o uso. Mas, pensando mais a sério, percebi que é uma incompatibilidade com minha forma de ver a vida hoje.

Afinal, por que definir? Deixa ser o que for, como e quando for.

Para nós, viver será sempre mistério.

O presente em um segundo é passado. Vidas entrelaçadas, razão, emoção, rumos, memórias, acertos e erros... tudo vai mudando nossas cores, nossos tons, tecendo e tecendo, enquanto o futuro vem de lá, lançando seus raios no horizonte... nascendo em nós, presente.

É fluxo, é vida, é respiração, é rio que corre... como de-finir, como de-terminar, de-limitar?

Quem eu sou, quem é você? Depende... quando? Neste estalar de dedos ou no próximo? E me lembro da canção... "o futuro é uma astronave que tentamos pilotar. Não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar. Sem pedir licença, muda a nossa vida e depois convida a rir ou chorar…". E, se "nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá", qual o segredo? Depois de algum tempo e muitas doses de tylenol (é pq sou alérgica a aspirina, rs), cheguei à conclusão: desistir de pilotar. Manter-se aberto até mesmo às direções insuspeitas, confiar e descansar.

Opa! Mas é difícil demais! Sim, e por isso fracassamos tanto, especialmente nos nossos relacionamentos. É porque a qualidade deles é proporcional ao nível de entrega e confiança... assim ocorre entre as pessoas, e infinitamente mais entre nós e Deus. O problema é que temos a tendência de converter entrega em dívida e confiança em expectativa disso ou daquilo. Saímos da essência, da disposição genuína, e lá vamos nós para a compulsão por segurar, controlar alguma coisa... os dedos coçam (os neurônios também).

Crer na condução, render-se ao amor, viver pela graça: imenso desafio! Somos teimosos, ansiosos! Mas esta é a obra do Pai em nós, e Ele é fiel para completá-la.

A verdade bastará a cada momento. Se a busca for verdadeira, o encontro também o será. O texto bíblico diz: ".. e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". O significado da frase vai muito além do reconhecimento do plano salvífico e se liga à amplitude infinita do amor de Deus, do amor de Deus por nós, do amor de Deus em nós, que faz brotar amor-próprio, amor-próximo, amor que move a história, que é revelação, pelo qual podemos construir a nossa história sob luz, e lançar a claridade sobre todos os pontos, mesmo aqueles que teríamos o impulso de ocultar... história do que fomos, somos e ainda viremos a ser.

Essa verdade só pode ser buscada aos pés da cruz, porque a sinceridade, a honestidade, a capacidade de nos desnudarmos e apresentarmos sem máscaras diante de Deus (como se Dele pudéssemos esconder algo!), de nós mesmos e daqueles que nos cercam está corrompida em nossa natureza... é dom do alto, dom que restaura, que reconecta.

O pecado busca o escuro, cria sombras na alma, afasta a luz, cria cavernas, onde as pessoas e as relações adoecem. Só o brilho da verdade liberta. Porque a verdade não precisa de forma própria, de polidez para ser apresentada, ela simplesmente é ou não é. Se algo deve ser mudado é preciso primeiro que esteja sob o sol, para que possa ser visto, percebido e tratado. A verdade liberta porque não há cadeias que possam contê-la. E só a liberdade traz VIDA.

Lembro-me da conversa que tive certa vez com um juiz de uma vara criminal. Ele dizia que, sempre, o mais notório e marcante para ele nas audiências era observar a "cor" dos presos. "-Eles têm uma cor, qualquer que seja o tom da pele, é 'mofada', inconfundível. Por vezes, quando há fuga das prisões, sendo imediata a busca, é possível identificar os foragidos porque se distinguem das demais pessoas na rua. A cadeia, o enclausuramento, traz a eles uma cor 'sem vida'". Claro, trata-se de aspecto físico, mas creio que seja uma metáfora apropriada ao que se passa em nossos corações quando sufocados muito tempo por máscaras, sombras, esconderijos.

Quem eu sou? Quem é vc? Voltamos à nossa pergunta. Não falo aqui de fenótipo ou personalidade. É claro que nossos traços nos diferenciam. Mas o que somos em essência? E trago à memória um tweet do Ricardo Gondim: "quem diz eu nunca mudei em minhas convicções ou é mentiroso ou é insano".

Numa linguagem bem "internet", somos páginas em construção!!!! Com direito à figura do bonequinho com britadeira, picareta, sei lá mais o quê, rs.

Isso talvez nos desestabilize e dê medo, porque prefirimos a ilusão da certeza à angústia do indefinido. Mas há um caminho: "não tenhas sobre ti um só cuidado qualquer que seja, pois um, somente um, seria muito para ti". Lancemos sobre Ele, é o conselho do Mestre.

Eu espero sinceramente que você não tenha frases prontas para dizer a mim quem você é. Eu não quero tê-las a meu respeito. Prefiro a jornada, o aprendizado e as oportunidades do caminho, o horizonte aberto às mudanças. Se Cristo é o alvo, e alvo permanente, em quem não há sombra de mudança, assim o é por ser Deus, Aquele que É desde a eternidade, a própria perfeição. Nós não, somos projeto e projeção, sendo edificados e buscando nitidez.

Esta é a mão de Deus sobre mim, a obra do Pai. Conheço de ter experimentado. Meu desejo é apenas vivê-la, feliz por ser em tudo a Sua vontade. E se você respira, pensa, ama... bem, se vc é dos meus, tipo assim, humano, rs... é também o que desejo para a sua vida.