segunda-feira, 26 de abril de 2010

Presente (2)

Da mesma e inspiradora fonte, com idêntica nota... e uma pequena gotinha nos olhos. Era um brilho, rs.

"Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!"

* * *

"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."

FERNANDO PESSOA

Presente (1)

"Já escondi um amor com medo de perdê-lo, já perdi um amor por escondê-lo.

Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade...

Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!"

(CLARICE LISPECTOR)


Recebi o texto com uma nota: me lembra vc! E ficou no coração, obrigada.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

E viva a simplicidade da infância!

Passei a tarde de hoje com meus dois tesouros: Júlia e Pedro... energia que não acaba.

Depois de lancharmos, sentamos na sala (eu, cunhada e irmão) para tentarmos, em vão, bater um papo contínuo, rs. E só conseguíamos rir. Afinal, "ter filhos é...". Eles corriam, pulavam, chamavam a atenção de todas as formas possíveis e imagináveis até que encontraram uma brincadeira "legal": e eu virei escorrega. Nada demais... eles só queriam subir pela lateral do sofá, passar por cima de mim e pular para o outro lado, onde estava o pai. E assim fizeram por mais de meia hora seguida... até que eu, já com os braços cansados de tanto fazer alavanca e a perna toda dolorida de pezinhos delicados, rs, levantei....

Fiquei depois pensando. Sempre me intrigou (por vezes, até desesperou, rs) o gosto das crianças por fazerem e fazerem de novo, indefinidamente, aquilo que acharam "gostoso". Por que será? Como adultos, logo pensamos: ok, foi divertido, mas chega, já acabou a graça... que tal procurar algo novo? Não dá para isso aqui durar eternamente mesmo...

Mas a mente infantil não funciona assim, eu acho. Talvez, com menos expectativas (planos) para frente e menos experiências para trás, eles apreciam com muita profundidade cada momento e se sentem felizes apenas por poder repetir e repetir o prazer de uma simples brincadeira.

Não sei se meus sobrinhos tinham em mente que aquele pula-pula alguma hora iria acabar... ou que eu iria me levantar e ir embora, mas o certo é: as crianças não estão preocupadas com o "tudo que é bom dura pouco". Não sofrem por antecipação e não poupam energia para aproveitar o que veio de presente. Desfrutam dos momentos como se fossem eternos e com uma intensidade que deveríamos relembrar aqui dentro, guardada em algum lugar.

Já nós... afinal, o que o tempo nos traz? Pressa? Indiferença? Medo?

Se não cuidarmos melhor, passamos pelas pessoas, pelos encontros, pelas oportunidades, apenas preocupados com o que vem depois ou marcados por aquilo que já nos ocorreu. E perdemos certa ingenuidade necessária para permitir que cada momento seja único. Cultivarmos simplesmente o que for bom, por que não?

Quanta sabedoria naquela brincadeira de hoje... quero guardar um tanto da criança que fui para a vida inteira.

Da excelência da pausa

"Muitos temores nascem do cansaço e da solidão" (Renato Russo, Há tempos, inspirado na Desiderata)

"Ele mesmo, porém, se foi ao deserto, caminho de um dia, e veio, e se assentou debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte e disse: Basta... Eis que um anjo o tocou e disse: Levanta-te e come. Comeu, bebeu e voltou a dormir... e segunda vez veio o anjo: Levanta-te e come porque o caminho será sobremodo longo; ... e caminhou até o monte Horebe... Ali, entrou numa caverna. Veio a palavra do Senhor: que fazes aqui, Elias? Eis que passava o Senhor; e um grande e forte vento... porém o Senhor não estava no vento... um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto... um fogo, mas o Senhor não estava no fogo; e, depois do fogo, um cicio tranquilo e suave... Ouvindo-o Elias, saindo, pôs-se à entrada da caverna... Disse-lhe o Senhor: Vai, volta ao teu caminho..." (1Rs. 19)


Precisamos da pausa.

Ela pode ser consciente, por prevenção (e é bom que o seja), mas também fruto do limite que já estourou, do desespero, como foi o caso do profeta. De uma ou outra forma, certo que será terapêutica.

Minha mãe ficava sempre repetindo uma frase: - "Filha, sempre que der, deite-se e olhe para o teto". Um amigo deu boas risadas recentemente quando contei isso.

Quando disse que um conselho de minha mãe reverberava aqui dentro sempre que eu me sentia meio sufocada pelas pressões de todo lado, acadêmicas, profissionais, financeiras, emocionais, relacionais, espirituais, acho que ele esperou algo como "seja forte e corajosa"... mas não, minha mãe dizia para eu aprender a olhar para o teto!

Apesar de eu realmente ter presenciado, por vezes, ela levar a própria máxima ao pé da letra (deitada na cama e olhando pro teto, rs), hoje entendo e guardo comigo o significado deste conselho. Para mim, à época de adolescente, início de juventude, sendo 220V por natureza, parecia uma piada... dependendo dos ânimos, até provocação. Como assim olhar para o teto, mãe? Que idéia mais bizarra. Além de perda de tempo, é impossível parar de PENSAR (entenda-se TORTURAR).

O tempo passou e comecei a perceber que o recado era simples: pare! E não faça nada! E como isso me fez bem.

Claro, sempre que possível, prefiro estar na rede de casa olhando a paisagem de um vale com muito verde e casinhas coloridas que formam um belo quadro à luz do sol... prefiro mais ainda caminhar na praia, à beira do mar, molhando os pés, envolvida por aquela brisa deliciosa, constante, e o barulho das ondas encerrando-se e renovando-se infinitamente... ou perto de uma cachoeira, enfim... a única forma que ainda não experimentei foi a recém sugerida por um amigo "engraçadinho" de olhar, em plena Linha Amarela, para o céu enquanto dirigia... De resto, levo tão a sério o conselho de mami, que hoje, se não tiver o contexto perfeito, serve a cama mesmo com o teto branco, rs.

Brincadeiras à parte, hoje é feriado... assim está nascendo este texto. Curioso... sempre que avistamos uma oportunidade como a de hoje vemos a palavra LAZER piscar em neon. E, por vezes, nos enchemos de mais "compromissos" que nos distraiam das responsabilidades e dificuldades do cotidiano... Mas a proposta da minha mãe (de quem conhece bem a cria) era... pare tudo, não faça absolutamente nada. Fique só com o silêncio... sinta a própria respiração... se preciso, fique olhando para o branco do teto... e se concentre para fazer calar a multidão de vozes e pensamentos que estão naquela confusão e exaustão do dia-a-dia.

Lembrei agora da cegueira do Saramago... ela não era escura como a natural, era branca, branco leitoso, mas feito névoa, finíssimo (seria o meu teto? rs). Fora uma cegueira passageira, mas reveladora. Havia uma personagem infiltrada no meio do grupo de cegos confinados, a única que, sem qualquer explicação, ficou imune. Por curiosidade, ela era a mulher do médico... qualquer semelhança é mera coincidência. Com o passar do tempo, conforme os "doentes" se adaptavam à sua nova condição e aguçavam os demais sentidos, pairava a indagação: quem tinha melhor percepção da realidade... ela ou eles?

Divagações à parte, há algumas semanas, senti uma vontade enorme de encontrar uma caverna. Se pudesse, meu único desejo naquele momento era sumir. Às vezes, isso acontece e, nessas horas, sei que os limites estão acendendo a luz vermelha... preciso de pausa.

Interessante o relato da fuga de Elias ao deserto. Com a cabeça a prêmio depois de nada ter feito, senão cumprido a sua missão, a fadiga física e emocional era tão intensa, que ele pediu para si a morte. Demônios nossos que nascem do cansaço e da solidão!!! Procuramos "o deserto" como saída mais fácil à opressão da qual não conseguimos dar conta.

Essa passagem bíblica, além de belíssima, também revela um segredo muito importante: o da nossa percepção de Deus diante da vida. O texto parece contraditório à primeira vista, pois diz que o Senhor passava... Ou seja, ele estava ali, presente. Aliás, nunca se ausentara. Ao mesmo tempo, diz que o Senhor passava e havia um grande e forte vento que fendia os montes, mas ele não estava no vento; um terremoto, e não estava no terremoto; depois um fogo e não estava no fogo. Afinal: Ele passava ou não passava? Estava ou não estava? Mas então... "veio o cicio tranquilo e suave". Pela lógica da construção textual, ficamos esperando o seguinte complemento... "e eis que o Senhor estava no cicio". No entanto, a conclusão não nos chega dessa forma... ela começa por "ouvindo-o Elias".

Eis o ponto... a percepção humana. Deus está sempre conosco, cuidando, alimentando e sustentando para a caminhada, mas precisamos afastar a agitação dos ventos, do terremoto, do fogo, para ouvir a sua voz, que é sempre suave por seu amor e graça, seja a palavra de consolo, repreensão ou encorajamento. Só poderemos ouvi-la depois que tivermos feito a pausa necessária parar curar o cansaço e a solidão que despertam temores infundados. Não que os medos não sejam sérios e compreensíveis. Pelo contrário, Jesus experimentou nossa fragilidade, nossas dores, necessidades e conflitos. Sabe o que é sofrer. Ainda assim, se pudéssemos viver sempre na plenitude da confiança no Pai, diríamos convictos como ele, mesmo diante da angústia da doença que acometia o amigo Lázaro: ela não é para a morte, mas para a glória de Deus.

Lembro de uma situação bem recente vivida por uma amiga. O cerco parecia ter se fechado na sua vida, tudo estava desmoronando e parecia não haver saída. Recordo que me senti frágil e inútil sem ter sequer palavras a dizer e muito menos algo a fazer. E me veio à boca apenas isso: não sei como, nem em que momento, mas sei que Deus agirá. Ele já está agindo, embora nossos olhos ainda não alcancem. Já vivi situações clássicas de "salva pelo gongo", mas em todas elas, tenha sido mansa ou esperneado bastante no processo, percebi que estava sendo moldada a descansar, entregar e esperar.

Esta semana recebi, com muita alegria, um email desta amiga em que dizia: "estou muito feliz, num piscar de olhos, o cenário mudou; precisava te contar isso". Ah, como Deus é bom!!!! Meu pastor certa vez brincou: Deus é "irritantemente" bom. E não é mesmo? Por vezes, ele cerra todas as portas só para nos lembrar e dar a certeza de que todas as chaves estão nas suas mãos, e serão usadas para nosso bem. O problema, às vezes, é que APENAS confiar, ufa!, é difícil.... nós queríamos ter o molho, rs. Certamente, para nos atrapalharmos com ele...

"Tudo posso naquele que me fortalece", diz a Palavra. Sem Ele, somos apenas pó, com Ele, podemos ser luz, cruzando o espaço de uma forma que nem toda a ciência foi ainda capaz de reproduzir. Podemos brilhar refletindo a luz eterna de quem governa as estrelas e ao mesmo tempo cuida e vive pessoalmente em cada um de nós.

Essa verdade não muda, mas a nossa percepção dela pode ficar por vezes bastante turva e alterada.

Quando estudava música, esta era uma das principais lições. Todo aluno, afoito como de costume, só quer aprender a execução... mas execução parece sempre ação e não espera. Logo vinha a instrução: sinta o silêncio na música... é ele que encerra momentos, dá respiração, e prepara o que vem a seguir. Por isso, aprecie a pausa. É essencial, sem ela não há música.

O silêncio e a quietude são capazes de restaurar a medida certa de todas as coisas. Ajudam a dissipar os temores que nascem de nossa própria imaginação. Fazem-nos ouvir melhor a voz do alto que mostra o caminho. Esvazie-se, fique com o nada. E então perceba o quanto Deus é misericordioso em fazer-nos transbordar.

Aquele abraço, bom feriado!


sábado, 10 de abril de 2010

Das utopias

E então alguém diz que não se deve sonhar tanto na vida, porque utopias só trazem frustração. E eu penso: depende do que se considere mais forte na utopia.

A certeza do ideal ou do impossível?

E guardo as palavras do Quintana...

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Desejos (2).. para o íntimo.

Desejo primeiro que você seja inteiro e assim grande*. Que se descubra, desnude, em qualidades e defeitos, para que viva na luz e sejam autênticos todos os seus relacionamentos.

Desejo que se assuma para que não tenha de valer-se de máscaras, pois não se sustentam em qualquer circunstância. Podem parecer bonitas e aderentes com o tempo, mas corroem o caráter, sugam as forças, provocam cisões na mente e na alma, são desencontros de nós mesmos. Bom seria recordar sempre que os piores disfarces são aqueles que mantemos a sós com o espelho.

Desejo ainda que você queira mudar e crescer à medida de suas descobertas mais íntimas e que se proponha a fazê-lo de modo genuíno, sem trocar simplesmente de pele.

Que seja corajoso e antes de tudo entenda que o maior perigo não está do lado de fora, mas dentro de você. Que tenha ousadia para enfrentar a si mesmo e tratar o próprio veneno.

Que você aprecie, busque e promova o que é belo, bom e agradável... para que a vida em você e ao seu redor sorria mesmo diante de lágrimas.

Que seus pensamentos e palavras sejam sábios e puros. Que não se tornem simples discurso ao vento, mas que o conduzam a tocar a realidade, ser transformação.

Que você aprecie o maravilhoso sabor de compartilhar e que cultivar amizades torne-se o seu melhor hábito.

Que o seu horizonte se amplie e veja um universo além de sua redoma. Somos todos necessitados e "igualmente diferentes". Que você conheça o que é dar e receber. Que saiba ensinar, mas antes aprender.

Que aprendendo, valorize a entrega, sem confundi-la com utilidade. Que seja capaz de admirar e desfrutar de uma mão estendida e um coração apto a dividir. E que jamais use as pessoas que assim se dispõem a viver por vocação ou escolha. Mais ainda, que você viva para ser contado entre elas.

Acima de tudo, que você ame em todas as dimensões. Que amor não se confunda com incapacidade de estar só, porque às vezes é preciso. Seja, sim, um sentimento-atitude, que o mova em direção ao outro e o faça recordar todos os dias que ninguém é auto-suficiente.

Desejo, pois, que você seja inundado a cada dia pelo dom maior do Criador. Que o amor transborde e exale por cada poro do seu corpo e cada sentido da sua alma.

E se assim for, tenho certeza de que será um grande homem, uma grande mulher.

E muito pouco restará a desejar de íntimo a íntimo, pois você será o sonho em si.

E então desejo apenas que este seja o seu desejo para mim.


*Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis/FP

terça-feira, 6 de abril de 2010

Decisão

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- Isto é uma linha?!!!

- Sim, uma linha. Divisória. Pq? Ruim, tá muito reta? Acho que estava num momento meio ... digamos, objetivo. Um pouco cansada das curvas.

- Não, não. A linha parece ótima. Só não entendi direito pq você colocou isso aí.

- Ah tá, parece meio sem sentido, eu sei. É que só agora descobri que traçá-la é fácil, quase um passe de mágica. O problema é que, às vezes, custa tanto a chegar que fiquei realmente impressionada com o traballho que deu concluir algo tão simples. A vida é realmente engraçada. Importante registrar. Deixa aí.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Recortando... sobre despedidas (2)

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos!"


Atribuído a Fernando Pessoa/
Fernando Teixeira de Andrade

Clamor necessário

"O que mais preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons".

Martin Luther King

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Chegada e partida

Por enquanto

Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente...

Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre, sem saber, que o pra sempre
Sempre acaba...

Mas nada vai conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém só penso em você
E aí, então, estamos bem...

Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar, agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa...

Renato Russo


A despedida era tão certa quanto fora o encontro, mas nem um nem outro decidiu fazê-la.
E no oceano de coincidências de que tinha sido feita aquela relação, havia enfim mais uma, última e definitiva. E por ela partiram, cada um para o seu lado, num mesmo e exato momento. Não houve adeus ou até breve. Simplesmente assim foi, como acontece a vida.
Na bagagem, apenas uma certeza: o tempo tinha se cindido... só havia antes e depois. Nas histórias pessoais, tudo se definia a partir daquele marco, do momento em que se cruzaram e, lançada a semente, por certo espaço embrionaram uma mesma história, dividindo o que passou e vendo algo novo ganhar vida: eles mesmos, desvelando-se. E sonharam. Mas não era para colherem juntos. Os frutos pertenciam a outra estação. Fora, apenas e tudo, o marco de um descobrimento, breve, fundo e único como devia ser.

Modernidade e ambivalência

De uma notícia entre amigos, surgiu um papo que me fez pensar a respeito das narrativas pessoais, comunitárias, culturais, enfim, as diferentes perspectivas sobre a vida... De imediato, recordei um texto do Bauman, que me marcou há alguns anos atrás (este post leva o título da obra).

Vale muito a nota:


O mundo moderno é um mundo de conflito: é também o mundo de um conflito que foi interiorizado, que virou um conflito interior, um estado de ambivalência e contingência pessoais...

Nenhuma interpretação é completa nem permite que se satisfaça com a sua verdade, proclama Freud - embora sempre lute para tal e, enquanto luta, possa de fato "melhorar". Mas "melhorar" não significa aproximar-se mais da verdade que possa legitimamente excluir suas alternativas. Significa, ao contrário, mais tolerância face a contra-interpretações suspeitas e ainda desconhecidas, mais modéstia e uma perspectiva ampla o bastante para incluir outras possibilidades já adivinhadas ou ainda insuspeitadas... Toda construção, por assim dizer, "é incompleta, uma vez que cobre apenas um pequeno fragmento dos eventos esquecidos"...

O mundo é ambivalente, embora seus colonizadores e governantes não gostem que seja assim e tentem a torto e a direito fazê-lo passar por um mundo não ambivalente. As certezas não passam de hipóteses, as histórias não passam de construções, as verdades são apenas estações temporárias numa estrada que sempre leva adiante mas nunca acaba...

A ambivalência não é para ser lamentada. Deve ser celebrada. A ambivalência é o limite de poder dos poderosos. Pela mesma razão, é a liberdade daqueles que não têm poder.

Segundo Bauman, é esta ambivalência, refletida na riqueza de sentidos da realidade humana, que permite deixar as perguntas figurarem como parte das respostas.