De uma notícia entre amigos, surgiu um papo que me fez pensar a respeito das narrativas pessoais, comunitárias, culturais, enfim, as diferentes perspectivas sobre a vida... De imediato, recordei um texto do Bauman, que me marcou há alguns anos atrás (este post leva o título da obra).
Vale muito a nota:
O mundo moderno é um mundo de conflito: é também o mundo de um conflito que foi interiorizado, que virou um conflito interior, um estado de ambivalência e contingência pessoais...
Nenhuma interpretação é completa nem permite que se satisfaça com a sua verdade, proclama Freud - embora sempre lute para tal e, enquanto luta, possa de fato "melhorar". Mas "melhorar" não significa aproximar-se mais da verdade que possa legitimamente excluir suas alternativas. Significa, ao contrário, mais tolerância face a contra-interpretações suspeitas e ainda desconhecidas, mais modéstia e uma perspectiva ampla o bastante para incluir outras possibilidades já adivinhadas ou ainda insuspeitadas... Toda construção, por assim dizer, "é incompleta, uma vez que cobre apenas um pequeno fragmento dos eventos esquecidos"...
O mundo é ambivalente, embora seus colonizadores e governantes não gostem que seja assim e tentem a torto e a direito fazê-lo passar por um mundo não ambivalente. As certezas não passam de hipóteses, as histórias não passam de construções, as verdades são apenas estações temporárias numa estrada que sempre leva adiante mas nunca acaba...
A ambivalência não é para ser lamentada. Deve ser celebrada. A ambivalência é o limite de poder dos poderosos. Pela mesma razão, é a liberdade daqueles que não têm poder.
Segundo Bauman, é esta ambivalência, refletida na riqueza de sentidos da realidade humana, que permite deixar as perguntas figurarem como parte das respostas.
Saindo da inércia
Há 7 anos

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