Se vc tem uma conta de orkut, facebook, twitter e afins, sabe do que estou falando.
Item padrão a preencher: quem eu sou?
Se vc resolve criar um blog, como eu acabo de fazer, lá vem a tal perguntinha de novo...
Ela sempre me irritou um pouco, não sabia exatamente o motivo. No mínimo, porque eu não levava jeito para ser bula de remédio, com definições, prescrições e advertências para o uso. Mas, pensando mais a sério, percebi que é uma incompatibilidade com minha forma de ver a vida hoje.
Afinal, por que definir? Deixa ser o que for, como e quando for.
Para nós, viver será sempre mistério.
O presente em um segundo é passado. Vidas entrelaçadas, razão, emoção, rumos, memórias, acertos e erros... tudo vai mudando nossas cores, nossos tons, tecendo e tecendo, enquanto o futuro vem de lá, lançando seus raios no horizonte... nascendo em nós, presente.
É fluxo, é vida, é respiração, é rio que corre... como de-finir, como de-terminar, de-limitar?
Quem eu sou, quem é você? Depende... quando? Neste estalar de dedos ou no próximo? E me lembro da canção... "o futuro é uma astronave que tentamos pilotar. Não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar. Sem pedir licença, muda a nossa vida e depois convida a rir ou chorar…". E, se "nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá", qual o segredo? Depois de algum tempo e muitas doses de tylenol (é pq sou alérgica a aspirina, rs), cheguei à conclusão: desistir de pilotar. Manter-se aberto até mesmo às direções insuspeitas, confiar e descansar.
Opa! Mas é difícil demais! Sim, e por isso fracassamos tanto, especialmente nos nossos relacionamentos. É porque a qualidade deles é proporcional ao nível de entrega e confiança... assim ocorre entre as pessoas, e infinitamente mais entre nós e Deus. O problema é que temos a tendência de converter entrega em dívida e confiança em expectativa disso ou daquilo. Saímos da essência, da disposição genuína, e lá vamos nós para a compulsão por segurar, controlar alguma coisa... os dedos coçam (os neurônios também).
Crer na condução, render-se ao amor, viver pela graça: imenso desafio! Somos teimosos, ansiosos! Mas esta é a obra do Pai em nós, e Ele é fiel para completá-la.
A verdade bastará a cada momento. Se a busca for verdadeira, o encontro também o será. O texto bíblico diz: ".. e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". O significado da frase vai muito além do reconhecimento do plano salvífico e se liga à amplitude infinita do amor de Deus, do amor de Deus por nós, do amor de Deus em nós, que faz brotar amor-próprio, amor-próximo, amor que move a história, que é revelação, pelo qual podemos construir a nossa história sob luz, e lançar a claridade sobre todos os pontos, mesmo aqueles que teríamos o impulso de ocultar... história do que fomos, somos e ainda viremos a ser.
Essa verdade só pode ser buscada aos pés da cruz, porque a sinceridade, a honestidade, a capacidade de nos desnudarmos e apresentarmos sem máscaras diante de Deus (como se Dele pudéssemos esconder algo!), de nós mesmos e daqueles que nos cercam está corrompida em nossa natureza... é dom do alto, dom que restaura, que reconecta.
O pecado busca o escuro, cria sombras na alma, afasta a luz, cria cavernas, onde as pessoas e as relações adoecem. Só o brilho da verdade liberta. Porque a verdade não precisa de forma própria, de polidez para ser apresentada, ela simplesmente é ou não é. Se algo deve ser mudado é preciso primeiro que esteja sob o sol, para que possa ser visto, percebido e tratado. A verdade liberta porque não há cadeias que possam contê-la. E só a liberdade traz VIDA.
Lembro-me da conversa que tive certa vez com um juiz de uma vara criminal. Ele dizia que, sempre, o mais notório e marcante para ele nas audiências era observar a "cor" dos presos. "-Eles têm uma cor, qualquer que seja o tom da pele, é 'mofada', inconfundível. Por vezes, quando há fuga das prisões, sendo imediata a busca, é possível identificar os foragidos porque se distinguem das demais pessoas na rua. A cadeia, o enclausuramento, traz a eles uma cor 'sem vida'". Claro, trata-se de aspecto físico, mas creio que seja uma metáfora apropriada ao que se passa em nossos corações quando sufocados muito tempo por máscaras, sombras, esconderijos.
Quem eu sou? Quem é vc? Voltamos à nossa pergunta. Não falo aqui de fenótipo ou personalidade. É claro que nossos traços nos diferenciam. Mas o que somos em essência? E trago à memória um tweet do Ricardo Gondim: "quem diz eu nunca mudei em minhas convicções ou é mentiroso ou é insano".
Numa linguagem bem "internet", somos páginas em construção!!!! Com direito à figura do bonequinho com britadeira, picareta, sei lá mais o quê, rs.
Isso talvez nos desestabilize e dê medo, porque prefirimos a ilusão da certeza à angústia do indefinido. Mas há um caminho: "não tenhas sobre ti um só cuidado qualquer que seja, pois um, somente um, seria muito para ti". Lancemos sobre Ele, é o conselho do Mestre.
Eu espero sinceramente que você não tenha frases prontas para dizer a mim quem você é. Eu não quero tê-las a meu respeito. Prefiro a jornada, o aprendizado e as oportunidades do caminho, o horizonte aberto às mudanças. Se Cristo é o alvo, e alvo permanente, em quem não há sombra de mudança, assim o é por ser Deus, Aquele que É desde a eternidade, a própria perfeição. Nós não, somos projeto e projeção, sendo edificados e buscando nitidez.
Esta é a mão de Deus sobre mim, a obra do Pai. Conheço de ter experimentado. Meu desejo é apenas vivê-la, feliz por ser em tudo a Sua vontade. E se você respira, pensa, ama... bem, se vc é dos meus, tipo assim, humano, rs... é também o que desejo para a sua vida.
Saindo da inércia
Há 7 anos

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