sábado, 26 de março de 2011

Não existes!

Não existes!

Não que sejas único,
és o que não há:

o pecado mais sagrado.

O sabor predileto
nunca ao fim provado.

O medo mais acolhedor,
a distância mais presente,
a certeza mais duvidosa.

O silêncio que ensurdece,
o olhar que cega.

A pele que é cheiro,
O cheiro que é tato,
O tato que é sopro
E percorre inteiro o corpo -
Frescor de fogo,
Prazer exato!

Sonho-te, moves-me.
Torna-te
E logo já não és.
Defino-te, dilui-me,
Rendo-me, escorres.

Quisera fosses vento,
definitivamente não existes!

E nada existe mais que a tua existência em mim...

Não sei de onde vens, desconheço para onde vais.
És meu maior, melhor e mais antigo mistério.
E assim vives:
Mito desejo indecifrável!

terça-feira, 22 de março de 2011

Reminiscências...

Quando era criança tinha um sonho bem estranho, a começar por sua frequência. Não era de ter sonhos repetidos, esse era um dos poucos, bem poucos.

Eis a cena que volta e meia visitava meu sono: arrumava-me para ir à escola, que era na descida da rua de casa. Curioso que nunca recordei dos momentos exatos que precediam a saída. No meio da calçada, já chegando ao colégio, começava a observar certos olhares diferentes e, ao olhar para mim mesma, percebia assustada que estava com apenas parte das roupas. Queria correr e voltar para casa, mas congelava e não saía do lugar.

Certa vez recordei o tal sonho e me debrucei sobre o que significava. Acreditem, ele dizia bem mais sobre mim do que se possa imaginar por simples linhas.

Já havia esquecido, no entanto, mas algo acaba de me trazer estalada a lembrança. E deu até calafrio.

Avisos de emergência, saída pela direita, espero não congelar mais.

terça-feira, 15 de março de 2011

Sonhos, bem mais que planos

Uma expressão lida hoje puxou aqui um fio ainda sem fim.

Falava-se de saudade e eis que surgiu uma remissão nostálgica ao "tempo da inocência". Comentei que sentia saudade de todos os bons tempos, mas realmente o da leveza da infância era marcante.

Então meu pensamento pegou carona e perdeu a hora de voltar: de que eu mais sinto falta desse tempo?

Não deve ser da inocência em si, porque crescer também é dádiva e hoje aprecio viver ao máximo cada idade.

Logo estalou na mente: "dos sonhos", de seu "tudo possível" universo.

E, não mais que num piscar de olhos, flagrei-me questionando quando foi que deixei de melhor sonhar para muito e muito planejar...

Sim, porque sonhos não são planos, apesar de viverem por aí como sinônimos.

São como dois substantivos apaixonados - podem ter uma sintonia quase perfeita, mas continuam sendo bem diferentes, duas essências distintas.

Planos podem até nascer de alguns sonhos, mas estes são infinitamente mais generosos.

Planos envolvem metas e estratégias, podem ou não incluir ousadia, mas sempre dentro de algum grau de viabilidade, expectativa.

Já os sonhos.. hm... os sonhos!

Caminham no infinito de trivial a absurdo sem qualquer traçado claro de rota.

Planos nos debruçam sobre o que já notamos ou vislumbramos. Sonhos nos conduzem até para o ainda insuspeito, podem ser, por vezes, pura névoa, transcendem os contornos da realidade que cerca e delimita.

Dos planos, se formos bons nisso, eliminamos o imponderável, ou é sinal de que foram mal traçados. Investimos e acreditamos no alvo escolhido e nas etapas projetadas; e temos, sim, visões, mas um tanto contidas pelo pé no chão.

Só nos sonhos temos a liberdade plena de cultivar o impossível aos olhos presentes, lado a lado com o já experimentado, percebido ao alcance de um dedo, um passo, uma nuvem ou um raio. Neles, a regra é não ter regra, e viajamos alto e profundo, as idéias e os desejos dançam num baile de todos os ritmos sem qualquer estranhamento.

Nascidos que sejam de memórias, contingências da vida, os sonhos fluem, inundam, rompem barreiras, levam-nos para lugares insondáveis. É sempre bem-vinda a surpresa, toda e qualquer curva que nos deslumbre ou mesmo amedronte com o que há após a esquina.

Nos sonhos, somos, sentimos; nos planos, pensamos, entendemos.

O que de mais belo existe na infância é o passaporte livre ao mundo dos sonhos. E achamos lindas as tresloucadas histórias e ilusões contadas pelos pequenos.

Não se pode viver apenas de sonhos, a maturidade nos traz esse passado-aprendizado, por isso dizemos que o tempo da inocência se foi. Planos nos movem concretamente, são essenciais a uma vida de boas colheitas!!!

É estéril, porém, viver tão somente deles, pois que vantagem há em acreditar no bastante provável? Depositar a esperança apenas naquilo que passou pelo mero cálculo do esforço e das probabilidades humanas?

Do que eu sinto mais falta?

Com todo respeito a uma música que amo: dos sonhos, não dos planos, é que tenho mais saudade.

Vida longa às boas marcas do tempo da inocência em nós!

quinta-feira, 3 de março de 2011

Só uma lista...

Acreditar
Aquietar
Silenciar
Ouvir

Sonhar
Mover-se
Lutar

Celebrar
Agradecer

Cantar
Sorrir
Contemplar

Partilhar
Confiar
Doar e saber receber

Pensar
Repensar
Cair
Levantar

Reconhecer os erros
Aceitar o perdão
Perdoar-se
Perdoar

É preciso ser inteiro
É preciso guardar a ternura
É preciso amar, sempre!