Uma expressão lida hoje puxou aqui um fio ainda sem fim.
Falava-se de saudade e eis que surgiu uma remissão nostálgica ao "tempo da inocência". Comentei que sentia saudade de todos os bons tempos, mas realmente o da leveza da infância era marcante.
Então meu pensamento pegou carona e perdeu a hora de voltar: de que eu mais sinto falta desse tempo?
Não deve ser da inocência em si, porque crescer também é dádiva e hoje aprecio viver ao máximo cada idade.
Logo estalou na mente: "dos sonhos", de seu "tudo possível" universo.
E, não mais que num piscar de olhos, flagrei-me questionando quando foi que deixei de melhor sonhar para muito e muito planejar...
Sim, porque sonhos não são planos, apesar de viverem por aí como sinônimos.
São como dois substantivos apaixonados - podem ter uma sintonia quase perfeita, mas continuam sendo bem diferentes, duas essências distintas.
Planos podem até nascer de alguns sonhos, mas estes são infinitamente mais generosos.
Planos envolvem metas e estratégias, podem ou não incluir ousadia, mas sempre dentro de algum grau de viabilidade, expectativa.
Já os sonhos.. hm... os sonhos!
Caminham no infinito de trivial a absurdo sem qualquer traçado claro de rota.
Planos nos debruçam sobre o que já notamos ou vislumbramos. Sonhos nos conduzem até para o ainda insuspeito, podem ser, por vezes, pura névoa, transcendem os contornos da realidade que cerca e delimita.
Dos planos, se formos bons nisso, eliminamos o imponderável, ou é sinal de que foram mal traçados. Investimos e acreditamos no alvo escolhido e nas etapas projetadas; e temos, sim, visões, mas um tanto contidas pelo pé no chão.
Só nos sonhos temos a liberdade plena de cultivar o impossível aos olhos presentes, lado a lado com o já experimentado, percebido ao alcance de um dedo, um passo, uma nuvem ou um raio. Neles, a regra é não ter regra, e viajamos alto e profundo, as idéias e os desejos dançam num baile de todos os ritmos sem qualquer estranhamento.
Nascidos que sejam de memórias, contingências da vida, os sonhos fluem, inundam, rompem barreiras, levam-nos para lugares insondáveis. É sempre bem-vinda a surpresa, toda e qualquer curva que nos deslumbre ou mesmo amedronte com o que há após a esquina.
Nos sonhos, somos, sentimos; nos planos, pensamos, entendemos.
O que de mais belo existe na infância é o passaporte livre ao mundo dos sonhos. E achamos lindas as tresloucadas histórias e ilusões contadas pelos pequenos.
Não se pode viver apenas de sonhos, a maturidade nos traz esse passado-aprendizado, por isso dizemos que o tempo da inocência se foi. Planos nos movem concretamente, são essenciais a uma vida de boas colheitas!!!
É estéril, porém, viver tão somente deles, pois que vantagem há em acreditar no bastante provável? Depositar a esperança apenas naquilo que passou pelo mero cálculo do esforço e das probabilidades humanas?
Do que eu sinto mais falta?
Com todo respeito a uma música que amo: dos sonhos, não dos planos, é que tenho mais saudade.
Vida longa às boas marcas do tempo da inocência em nós!
Saindo da inércia
Há 7 anos

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